O português Paulo Gaspar Ferreira e a brasileira Luciana Bignardi fotografaram, durante cinco meses, milhares de clarabóias. Fruto desta parceria luso-brasileira nasceu um livro, que reúne a poesia visual desses objectos e as palavras que os poetas lhes dedicaram.
Saiba mais, nesta entrevista, sobre a alma luminosa que se esconde atrás das clarabóias do Porto
P – Paulo e Luciana : para compreender melhor este projecto, é imprescindível conhecermos melhor a vossa trajectória profissional. Qual foi o vosso percurso ?
PF – Eu não sou apenas fotógrafo, sou várias coisas ao mesmo tempo. O meu pai era alfarrabista e, para mim, a livraria dele foi uma Universidade, o local onde tirei o meu curso superior através dos contactos com pessoas ligadas às artes, e a minha actividade profissional está ligada aos livros antigos.
LB– Eu sou natural de São Paulo e tenho uma formação ligada ao Design de ambiente : a arquitectura, o urbanismo e a pintura eram áreas que me interessavam, mas aquilo que realmente me apaixonava era a fotografia.
P – Como surgiu esta parceria ?
PF - Há trinta anos que comecei a interessar-me por registar visualmente as clarabóias. Essa actividade exigia muitas horas – porque temos de fotografar este objecto a uma determinada hora para captar a luz – e quando conheci a Luciana e o trabalho dela, achei que era a altura ideal para realizarmos, em conjunto, um projecto sobre as clarabóias do Porto.
LB - Vivo há muitos anos em Portugal, e sinto um grande afecto pela cidade do Porto. As clarabóias são também parte dessa cidade que me diz muito.
Quisemos mostrar estas jóias que o Porto tem, que merecem ser cuidadas e preservadas, porque muitas não estão num bom estado de conservação.
P – Vai ter continuidade este projecto Anima Luminaria ?
PF – Reunimos um conjunto de milhares de fotografias de clarabóias, e surgiu a ideia de juntar esse registo fotográfico a poesia ligada a este tema. Curiosamente, existe uma quantidade assinalável de poemas ligados a este assunto, o que mostra que a beleza das clarabóias não passou despercebida aos poetas.
Outra possibilidade que achamos interessante, é criar um roteiro turístico ligado às clarabóias.
LB– Este é um legado que as pessoas têm de conhecer melhor. Por estarem escondidas, às vezes não nos apercebemos onde estão as clarabóias.
Ainda há poucas semanas, encontrei por acaso uma clarabóia num local bastante curioso, e avisei o Paulo. Esta parceria também pretende dar a conhecer, não só às pessoas que vivem na cidade, como aos estrangeiros e, naturalmente aos brasileiros, este traço da cultura burguesa que não encontramos num número tão esmagador em nenhuma outra cidade do mundo.
Rui Marques
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