Telmo Pires: um fadista com o mundo na alma

A nova geração do fado não pára de nos surpreender com o seu talento. Telmo Pires é um nome a ouvir com muita atenção: viveu anos na Alemanha, absorveu estímulos variados que influenciaram a sua música, e juntou  toda esta versatilidade nas suas canções.
Agora, no regresso a Lisboa, mostra-nos no álbum “ Fado promessa”,  que é um fadista com o mundo na alma.


P – Como caracteriza o seu Fado ?
TP - Para ser sincero: não sei. É muito próprio.
 Não cresci em Lisboa, não frequentei casas  de fado desde miúdo, os meus pais não estão ligados à arte ou musica. Portanto tive que percorrer sempre caminhos muito próprios, diferentes.
Acho que se sente e ouve neste disco.

P – Que influências principais estão neste Disco Fado promessa?
TP -As minhas influências foram sempre as emoções que sinto na  vida, o amor, a minha história, meu passado, meu presente, o que quero exprimir, o que me toca.
 Não gosto de me limitar ou ser limitado. Durante as gravações,  aconteceram arranjos e ideias imprevistas, como trabalhar com várias vozes, mas que fazem sentido   e depois ficaram.

P - Tem alguma música que prefira neste álbum. Qual e porquê ?
TP - Para mim são todas músicas preferidas. Mas há três que estão muito ligadas a mim  e são bastante pessoais: ‘Meu amor’, ‘Morena’ e ‘Os navios’. 

P- O Telmo viveu em Berlim 11 anos. Como essa vivência influenciou a sua música  ? 
TP -  Aprendi que música é uma linguagem universal. Conheci tantos músicos, alemães e estrangeiros que vivem lá e com quais trabalhei, a quem mostrei o fado e que compreenderam, que se ligaram ao fado mesmo sem perceberem os poemas. Aprendi que tudo tem que fluir, que a música não conhece barreiras,  e que temos de estar com a mente e coração aberto... na vida e na arte.

P – Os ouvintes alemães interessam-se pelo fado ?
 TP - Sim, há um público para fado,  e está a crescer!  Quando eu comecei a cantar português na Alemanha - antes de me  mudar para Berlim -  em teatros frequentados quase só por público alemão,  o fado ainda era bastante desconhecido.
Os “Madredeus” eram vendidos como “Fado”. Felizmente isso mudou muito. Hoje ainda só ficam admirados, porque não se conhecem homens no fado.

 P – Quais são as suas principais referências neste género musical?
 TP- Há três vozes que me levaram ao fado... que me abriram o caminho para o fado. Amália Rodrigues, Carlos do Carmo e Dulce Pontes. Sem o conhecimento destas vozes, a arte desta expressão, de certeza absoluta que hoje não cantaria fado.

P –  Qual é a primeira memória que tem do Fado?
TP -    É de ouvir falar o meu avô duma cantora que ele adorava, que “não havia ninguém que cantasse como ela”, que se chamava Amália. E de ouvir a voz de Carlos do Carmo,  no carro dos meus pais,  nas longas viagens da Alemanha para Portugal,  quando era miúdo. 

P – Como olha para o crescente interesse mundial na nossa música mais emblemática ?
TP - Acho que nós todos gostamos muito de ver. Mas também gosto de inovação e novas ideias.
Não gosto de clichés, de ver fazer certas coisas “porque o fado é assim”. Isso para mim não existe:  estamos em 2014,  e uma música para ser autêntica, não se pode referir e até  nos  prendermos  só aos belos tempos passados.

Não podemos negar o dia de hoje, tudo que acontece tem influência no processo de criação. E nós somos criadores. É de nós que depende o futuro.

P – Vive agora em Lisboa. A cidade inspira-o a criar novas músicas ?
TP -  Lisboa é a minha maior paixão... desde que a pisei com 4 ou 5 anos pela primeira vez. Não nasci cá, nasci no norte em Bragança,  onde vou muita vez.
Toda a cidade é inspiradora, cheia de beleza, tristeza, de cores e paladares. Só aqui é que consigo fazer o que faço e ser quem sou.

P – Que outras músicas ouve para além do Fado
TP -  Muita coisa! Gosto de rock, de pop, da  chanson, de música clássica...

P – A Revista Sotaques fala da diversidade dos Sotaques. Como é que é que caracteriza  o seu sotaque ?
TP - Briganenseboeta. Uma mistura de bracarense e lisboeta. 

P – Gostava de apresentar este seu trabalho no Brasil ?
TP-  Adorava ter concertos no Brasil! Nunca fui, apesar de ter lá família.

P – O que acha da música brasileira e do intercâmbio artístico entre os artistas portugueses e brasileiros ?
TP - Gosto de tudo que sirva para comunicar e aprender uma cultura diferente,  e aprendermos uns dos outros. Tudo que aconteça organicamente. Duetos de artistas que gostam mesmo um do outro, se admiram e juntam a sua arte... é lindo, sente-se a vontade e energia!
Há fusões muito ricas em som e expressão. Seja fado com música brasileira, árabe, com musica electrónica ou clássica.
 Tem que fazer sentido. Mas muita coisa está a ser dirigida pelas grandes editoras... aí o interesse é óbvio: é de conquistar novos mercados.

P – Em 2014   onde vamos poder ouvi-lo e como vai ser a sua agenda?
 TP - Estou ainda muito contente de ter tido o convite,  e a minha estreia no auditório do Museu do Fado,  aqui em Lisboa em Julho. Foi uma grande honra e privilégio e reconhecimento. 
Este Outono vou entrar em novas gravações e há concertos marcados para a Alemanha, Áustria... e bastante ainda a acontecer. Mas mais fora de Portugal.



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