Espelho d’águapoesia13
à cidade de Cachoeira
 
O ondear da onda
embala o enigma dos homens.
É sempre África nesta cidade.
 
E as águas serpenteiam
antigas calçadas e ruas.
Para além da ponte, para além dos mangues.
 
O ondear da onda
Golpeia o sono das pedras.
É sempre solar este rio.
 
E a maresia orvalha
As ruínas dos engenhos.
Há um poente em cada janela.
 
O ondear da onda
vem de outras margens.
É sempre ontem nas torres das igrejas.
 
E tarda o trem que passa
anunciando abismos e manhãs.
Há sonhos e rumores nas jangadas.
 
 
O ondear da onda
avança sobre o tempo.
É preciso escrever no espelho d’água.
Adriano Eysen
Adriano Eysen Rego (1976), poeta, contista e crítico literário, é natural de Salvador. Licenciado em Letras Vernáculas pela UEFS, Especialista em Estudos Literários pela UNEB, professor de Literatura Portuguesa e Brasileira da UNEB, Mestre em Literatura e Diversidade Cultural pela UEFS, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa pela PUC-Minas e membro efetivo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. O autor publicou, dentre outros livros, Imagens do Sertão na poética de Castro Alves (2005/06 – ensaio - UESB), Cicatriz do silêncio (vencedor do concurso de poesia Banco Capital, 2007) e Assombros Solares (2011 – poesia – Via Litterarum).
 
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