Raul Proença: o Príncipe dos Jornalistas que amava Portugal


        
Das Beiras não só é natural Aquilino Ribeiro, mas outra grande figura da Cultura portuguesa do século XX, integrante como o romancista de Sernancelhe do mítico grupo da Biblioteca, Raul Sangreman Proença. Este príncipe do Jornalismo e  da polémica, amante da filosofia e autor do magnífico “ Guia de Portugal”, viagem à História e Geografia das terras portuguesas, nasceu em 1884  nas Caldas da Rainha.
Formado no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, afirmou-se nas primeiras duas décadas da jovem República como uma voz forte e contundente na defesa dos valores republicanos e socialistas, nomeadamente em Revistas e Jornais como a “ Alma Nacional” ou “ A Águia”. Ao lado de outras figuras proeminentes da elite intelectual republicana  como Aquilino, Jaime Cortesão, António Sérgio ou Leonardo Coimbra, Proença defendia um idealismo realista, que concretizasse os ideais republicanos e conduzisse o país a um caminho de progresso económico e cultural.
Não é de estranhar, pois, que fizesse parte do movimento da Renascença Portuguesa ou da Seara Nova, junto com o seu grande amigo António Sérgio, e que integrasse o já mencionado Grupo da Biblioteca. Na Biblioteca Nacional foi Chefe dos Serviços Técnicos, em coordenação com o Diretor da Instituição, Jaime Cortesão, modernizando os métodos de catalogação e organização documental.
A queda da segunda República e a ascensão do regime militar, embrião do Estado Novo, levou-o ao exílio, terrível destino para toda esta extraordinária Geração. Após passagem por Madrid vai para Paris, onde vive em condições muito precárias.
Regressa muito doente a Portugal em 1932, internando-se no Hospital Conde Ferreira, no Porto. Morre, nesse estabelecimento, em 1941  de febre tifóide.
De todas as obras que nos deixou Raul Proença, a mais emblemática é certamente o “ Guia de Portugal”, cuja primeira edição saiu em 1924 sob a tutela da Biblioteca Nacional. Uma extraordinariamente bem documentada descrição das terras da Nação Portuguesa, da sua História e Geografia, organizada e coordenada por Proença, com a participação de grandes vultos da nossa Literatura, Geografia  e Artes plásticas como Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão, António Sérgio, Raul Lino, Orlando Ribeiro.
Florbela Espanca, que o conheceu, dedicou-lhe um belo e certeiro poema “ Le Prince Charmant”. Porque ele era, verdadeiramente, um Príncipe dos jornalistas, das letras, do pensamento português.

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R. Marques