Jorge Amado: o menino que sonhou o Brasil


                              
                     
Como uma das suas personagens mais vivas, a Gabriela que cheirava  a Cravo e Canela, Jorge Amado reinventou o Brasil, captando-lhe as nuances, as cores, os odores. O Brasil da Baía, mulato, negro, rico ou pobre, o Brasil da mistura, do café com leite cuja identidade se multiplica até ao infinito.
Nascido em Itabuna, no Sul da Baía, em 1912, Jorge Amado foi viver com a família para  Ilhéus. A infância, essa idade dourada para a imaginação e a literatura, alimentou-se desse espaço paradisíaco, capital do cacau e  de um Litoral exuberante, que beijava o Mar e preenchia os sonhos do jovem escritor.
A ida para a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, na década de 30, estimulou o seu  ativismo político. É nessa altura que começa a ligação ao partido comunista, tão brilhantemente sintetizada na extraordinária Trilogia” Os subterrâneos da liberdade”, denunciando a brutalidade do Regime de Getúlio Vargas.
Em vez de enveredar pela carreira jurídica, Jorge Amado trabalhou como jornalista. O que não estranha pois o seu primeiro trabalho tinha sido, aos 14 anos,  como repórter policial no Diário da Baía e, posteriormente, noutro jornal baiano “ O Imparcial”.
Os temas do romancista foram um prolongamento dos trabalhos como jornalista: aos 18 anos, em 1930,  vê publicado o seu primeiro livro “ O país do Cacau” e em 1933 sai “ Cacau”, ambos um retrato crítico  dos poderes instalados dos coronéis e da  desigualdade sociais e económicas entre classes sociais. Paralelamente ao seu percurso como romancista e jornalista, também foi deputado federal , em 1945, pelo partido comunista brasileiro, sendo o autor da emenda que garantia a liberdade religiosa.
Esta intensa militância política e literária,  não era bem vista pelos sucessivos Governos que tinham simpatias fascistas – nomeadamente o Estado Novo de Getúlio Vargas. E, Jorge Amado,  sofreu vários exilíos na década de 40 e 50, na Argentina e Uruguai,  e na Europa, em Paris e Praga.
Jorge Amado é um dos mais profícuos escritores brasileiros: no total escreveu 49 livros e viu a sua obra editada em 55 países. Venceu os maiores prémios literários em Língua portuguesa – entre os quais o  prémio Camões em 1995 ou o prémio Jabuti em  1955 e 1959.
Mas será para  sempre recordado pelos filhos que criou, as suas personagens, algumas imortalizadas na Televisão. Como Gabriela de “Gabriela  Cravo e Canela”, Dona Flor e Vadinho de “Dona Flor e os seus maridos” ou Pedro Bala e o Professor em “ Capitães de Areia”.
 Um escritor com profundas ligações a Portugal – não só era amigo pessoal de José Saramago, Urbano Tavares Rodrigues  e Mário Soares – como era visita constante da pastelaria Natário, em Viana do Castelo. Foi uma inspiração para muitos escritores portugueses, pela sua escrita forte e sensual, estética e ética.
Deixou-nos em 2001,  com o seu imenso olhar nostálgico de menino de Ilhéus. O menino que sonhou o Brasil !!!

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R. Marques