Aquilino Ribeiro: um mestre da Língua Portuguesa

                         
Sempre que se fala nas referências, no século XX, da arte de escrever bem em português aparece, invariavelmente, o nome de Aquilino Ribeiro. Mestre Aquilino, uma referência para a Geração de escritores da segunda metade do século, entre os quais avultam Vergílio Ferreira, José Saramago, António Lobo Antunes ou José Cardoso Pires.
Ler Aquilino é um deleite: obras como “ A ilustre Casa de Romarigães”, “ Volfrâmio”, “ Terras do Demo”, “ O Malhadinhas” ou “ Quando os Lobos uivam” conduzem o leitor, como uma criança encantada, pelo bosque da ficção, através de um vocabulário riquíssimo que o desafia permanentemente. Além dos romances, não podemos esquecer o extraordinário autor de livros infantis como “ O romance da Raposa” ou “ O livro da Marianinha”,  ou o fulgurante biógrafo de Camilo,  por via do “ Romance de Camilo”, publicado em três volumes.
A vida de Aquilino  é tão extraordinária como a sua obra ficcional: este ilustre beirão, nascido no Carregal, no Concelho de   Sernancelhe, Distrito de Viseu,  em 1885, estudou para ser padre, no Seminário de Beja, mas desistiu do Curso, mudando-se para Lisboa em 1903. Na capital, colabora com o Jornal republicano “ A vanguarda”, escrevendo o seu primeiro romance “ A filha do Jardineiro”, em parceria com José Ferreira da Silva, em 1907, uma  exaltação  dos valores republicanos contra os poderes monárquicos instituídos.
Nesse mesmo ano entra no Maçonaria, passando a ser irmão no Grande Oriente Lusitano e é preso, por suspeita de pertença aos movimentos anarquistas que conspiravam para matar o rei – no seu quarto morre um membro da carbonária numa explosão. Feito prisioneiro, evade-se e foge para a Alemanha onde estuda letras na Faculdade da Sorbone e se casa com a alemã Grete Tiedman.
Regressa a Portugal, após a primeira guerra mundial, iniciando uma vida de professor no Liceu Camões e, a partir de 1919, integra o extraordinário grupo da Biblioteca, composto por Jaime Cortesão, Raul Proença ou António Sérgio. Esse grupo que trabalha em conjunto, na Biblioteca Nacional, sob a direção de Jaime Cortesão,  revoluciona a Instituição e afirma-se como uma referência intelectual nas duas primeiras décadas do século XX.
A República portuguesa cai, em 1927, e instala-se no país a Ditadura militar que será o embrião do Estado Novo de Salazar – que é convidado para Ministro das Finanças do General Mendes Cabeçadas -  e o grupo da Biblioteca vê-se empurrado para fora de Portugal e da Biblioteca Nacional. As restantes décadas são marcadas pela itinerância – vive em Paris, na Galiza, é homenageado em 1952 pela Academia das Letras do Brasil.
Desde a década de 30 até à sua morte em 1963, vive em Portugal. Nunca deixa de escrever e de manifestar o seu repúdio pelo Estado Novo, integrando em 1958 a candidatura de Humberto Delgado à presidência da República.
Em 1960 é proposto para o prémio Nobel da Literatura. Um prémio, sublinhe-se, que seria justíssimo para alguém que fez da Literatura Portuguesa uma obra de arte, influenciando gerações sucessivas.

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R. Marques