A História de Pernambuco, como toda a História em geral, vive de mitos e figuras lendárias. São elas que alimentam as memórias das populações, passando de Geração em Geração, e que fortalecem a identidade e crenças dos povos.
Lampião e Maria Bonita, o rei do cangaço e a mulher que o acompanhou, na vida e na morte, foram uma versão sertanheja do Romeu e Julieta no Brasil do século XIX. Antes de mais, convêm explicar que o cangaço foi um fenómeno que se prolongou, de meados do século XIX a princípios do século XX, consistindo em grupos de homens armados que assaltavam fazendas, comboios ou sequestravam coronéis, por motivos sociais e de distribuição das Terras.
Houve vários cangaceiros famosos - como Jesuíno Brilhante, o primeiro a ser reconhecido como tal, ou o último cangaceiro, Corisco, morto em 1940 - mas nenhum ascendeu aos altares da mitologia popular como Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Nascido em no Município de Vila Bela ( atual Serra Talhada) no Sertão Pernamucano, em 1897, o jovem Virgulino tornou-se cangaceiro aos 19 anos quando, no decurso de uma disputa com uma família rival, o seu pai, José Ferreira da Silva foi morto pela Polícia.
Para se vingar, Lampião constituiu o seu Bando e passou a atacar as Fazendas dos Coronéis que então governavam o Nordeste Brasileiro. Numa paragem dessas investidas brutais, em que se queimavam e assaltavam as Fazendas, conheceu, perto da Cachoeira de de Paulo Afonso, Maria Déia, filha de um Fazendeiro de Jeremoabo, na Baía.
Ele tinha 34, ela 20. Partiu com ele e o seu Bando.
Maria Bonita e Lampião tiveram uma filha Expedita, em 1932, que deixaram ao cuidado de familiares ou de amigos - nesse aspecto, a lenda e a realidade confundem-se. Sabe-se que ele foi o parteiro da filha.
Resistindo à perseguição da Polícia, durante cerca de 20 anos, em sete Estados do Nordeste brasileiro, o Bando de Lampião acabou por cair numa emboscada no dia 27 de Junho de 1938, na Fazenda de Angicos, no Sertão de Sergipe. Morreram Lampião e Maria Bonita - a quem deceparam a cabeça, ainda viva e gravemente ferida - e as suas cabeças, junto com as de outros membros do Bando, ficaram macabramente expostas, a céu aberto, para servirem de alimento aos urubus.
Lampião e Maria Bonita, no entanto, já tinham alcançado a imortalidade dos mitos. Há muitos registos de fotografias, tiradas pela Imprensa brasileira, que retratou ao longo dos anos, o bando de cangaceiros que era temido e amado, em doses iguais, em todo o país.
No cinema foram realizados três filmes sobre Lampião " Três cabras de Lampião" , 1962, , " Lampião, o rei do cangaço", em 1964, " Meu nome é Lampião" em 1969, e na Televisão foi realizada a mini-série de 1982 " Lampião e Maria Bonita" com Nelson Xavier e Tânia Alves.
Rui Marques