Se fizermos um resumo do século XX brasileiro e, escolhermos o nome de um intelectual, que tenha marcado o país, pela profundidade dos seus estudos, o nome de Gilberto Freyre virá em primeiro lugar. Antropólogo, sociólogo, historiador, escritor ou pintor, Freyre deixou um legado precioso para quem, posteriormente, quis investigar a forma como o Brasil se constituiu e se desenvolveu.
Nascido no Recife em 1900, era filho do Juíz Alfredo Freyre e, desde muito jovem, mostrou um grande interesse pela cultura - sobretudo através do desenho e da caricatura. Depois de concluídos os estudos no Brasil, foi estudar para a Universidade de Columbia onde, sob a direcção do famoso antropólogo Franz Boaz, concluiu a sua tese de Mestrado sobre o Tema " A vida social no Brasil em meados do século XIX".
O tema da origem da identidade brasileira dará lugar à sua mais reconhecida tese - o luso-tropicalismo. O termo foi utilizado pela primeira vez, em 1951, numa Conferência realizada em Goa, e procura ser uma interpretação da relação entre a cultura do colonizador e a cultura tropical, do modo como essa integração foi feita, recorrendo aos contributos da Antropologia, da Sociologia ou da Ecologia.
Dessa visão luso-tropicalista, nasceram " Casa Grande e Senzala", " Sobrados e Mucambos" ou " O Luso e o trópico", entre outras obras. Esse sincretismo cultural também terá estado na génese no famoso poema " Baía de todos os Santos e quase todos os pecados", que Manuel Bandeira elogiava, um poema extenso em que faz uma arrebatada declaração de amor à cultura baiana.
Gilberto Freyre morreu no Recife em 1987. Dele disse o escritor Monteiro Lobato " o Brasil do futuro não vai ser o que os velhos historiadores disserem e os de hoje repetem; vai ser o que Gilberto Freyre disser".
Rui Marques