Marília de Dirceu : o Sotaque de uma obra prima do amor


O investigador e professor português, Manuel Rodrigues Lapa, autor das  " Obras completas de Tomás Gonzaga", compilação  dos  poemas líricos " Marília de Dirceu e mais poesias",  designou-a como a Lírica amorosa mais popular da Literatura de Língua portuguesa. O grande poeta pernambucano e figura cimeira do movimento modernista, Manuel Bandeira, notava que na Língua portuguesa nenhuma obra, a não ser os Lusíadas, tinha sido tantas vezes editada, e o escritor José Veríssimo no livro " A Literatura brasileira" destacava o carácter pioneiro de " Marília de Dirceu" que,  junto com outros livros e autores  como " Caramaru" de Durão,  ou os " Sonetos" de Cláudio Costa", fizeram  a transição entre a poesia portuguesa e  a nova tradição poética brasileira que surgia assim exuberante, à imagem de um novo e imenso país chamado Brasil,  cuja identidade Literária e Cultural se começava a esboçar também  na arte poética. 
Acusado de participar  na conspiração da Inconfidência mineira, Tomás Gonzaga, então ouvidor geral de Vila Rica,   é enviado para uma prisão  na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, em 1789, no mesmo ano em que casaria com Maria Doroteia. O isolamento na Ilha, a privação da liberdade e do amor, foram o cenário ideal para o poeta   começar a escrita da sua obra-prima.
"Marília de Dirceu", sublimação literária de Maria Doroteia para alguns estudiosos, abstracção idealizada da  mulher para outros ,  é um diálogo entre Gonzaga, aliás Dirceu, o seu nome arcádico e a  pastora Marília. Nele encontramos temas como a iniciação amorosa, o refúgio na natureza,  a dor da reclusão, o sentimento profundo de injustiça num lirismo íntimo e enraizado na natureza. 
É um livro com o Sotaque mais profundo da alma humana: aquele que  fala, que diz o amor. 

Autor: Rui Marques