As paixões de Tomás Gonzaga





Há poetas que vivem tão intensamente as suas paixões,  que acabam por aceitar as contingências do destino como um mal menor, quando comparado à perda do ser amado. Consomem-se como fogos humanos, tão rapidamente acesos como extintos no momento em que a o amor se perde.
Tomás António Gonzaga, o  poeta e jurista luso-brasileiro, nascido em Miragaia em 1744, viveu e morreu sob o feitiço de Marília. Curiosamente a sua obra prima poética, Marília de Dirceu, sintetiza num título a história de um amor – Dirceu era o nome arcádico que assumia – e revela-nos como essa união, umbilical e única,   se tornou imortal através da Literatura.
Nascido em Miragaia, filho de mãe portuguesa e pai nordestino, Tomás Gonzaga mudou-se com aquele  para o Brasil após a morte da mãe para Pernambuco e a Baía em 1751. Estudou no Colégio dos Jesuítas e, anos depois, regressou a Portugal para estudar na Universidade de Coimbra, onde se torna Bacharel em Leis em 1768.
Regressa ao Brasil, já como magistrado,  à atual cidade de Ouro Preto e conhece aquela que será a sua musa inspiradora – Maria Doroteia – que inspirou a pastora Marília,  que glosará  nos seus poemas. Antes escreve Cartas Chilenas,  um poema satírico em forma epistolar e pede Maria Doroteia em casamento, que é marcado para 1789.
Mas Tomás Gonzaga, como já vimos, eram um homem apaixonado por uma mulher e por causas políticas. E foi a sua participação no movimento da Inconfidência mineira, contra o poder colonial, que lhe valeu a prisão durante três anos na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, em 1789.
A Prisão, como sabemos pela história de vida de escritores como Dostoievski ou Camilo, é um lugar onde a evasão literária se torna uma necessidade. E é assim que o poeta faz, finalmente,  jus à sua amada,  e escreve a obra Marília de Dirceu cuja primeira parte – 33 poemas- foi publicada em Lisboa graças aos seus irmãos maçons, e em 1799 seria editada a segunda parte com mais 65 poemas.
A sua pena é comutada em 1793, em troca do exílio em Cabo Verde, onde se casa e trabalha como advogado, vindo a morrer em 1810.
Esta é a História de Tomás Gonzaga, o poeta que perdeu o amor e só o reencontrou através da escrita.   


Autor: Rui Marques