“Quando
o tempo levantou, passada uma semana, partiram Baltasar Sete-Sóis e Blimunda
Sete-Luas para Lisboa, na vida tem cada um sua fábrica, estes ficam aqui a
levantar paredes, nós vamos a tecer vimes, arames e ferros, e também a recolher
vontades, para que com tudo junto nos levantemos, que os homens são anjos
nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las
crescer, isso mesmo fizemos com o cérebro, se a ele fizemos, a elas faremos, adeus
minha mãe, adeus meu pai”
Citação
do Memorial do Convento de José Saramago
Hoje
e amanhã vão ser Dias de José Saramago na Revista Sotaques Brasil/Portugal.
Amanhã celebra-se o aniversário do nascimento do Nobel português da Literatura
– nasceu a 16 de Fevereiro de 1922 e faleceu a 18 de Junho de 2010 – e queremos
prestar-lhe a devida Homenagem pelo que deu a Portugal e à Língua Portuguesa,
espalhada pelos quatro cantos do Mundo.
A
vida e obra de José de Sousa Saramago, é um milagre de superação permanente .
Nascido na Golegã, Azinhaga, no dia 16 de Novembro de 1922, numa família de
pais e avôs agricultores, acompanha os pais aos dois anos a Lisboa, onde viverá
os anos da Infância e da Juventude e grande parte da Idade adulta.
Por
dificuldades económicas, não consegue seguir estudos universitários, entrando
para a Escola Técnica e começando a trabalhar como Serralheiro mecânico. Não
deixa, porém, de ser um ávido leitor, frequentando a Biblioteca Municipal de
Lisboa, no Palácio de Galveias.
Com
25 anos, publica o primeiro romance “ Terra do Pecado” em 1944. A recepção à
primeira obra não é entusiástica, e o segundo livro “ Clarabóia”, é rejeitado
pelas Editoras, só sendo publicado em 2011, após a morte do escritor.
Mas,
apesar disso, Saramago persiste. Conjuga trabalhos na Editoral Estudos da Cor e
como Director do Diário de Notícias com a publicação dos livros de poemas “
Provavelmente alegria” ( 1970) e “ O Ano de 1993” (1975).
A
década de 70 marca um antes e depois na História de Portugal e de José
Saramago. Em 25 de Abril de 1974, o país liberta-se da tenebrosa Ditadura de
António de Oliveira Salazar, e Saramago retoma aos caminhos da ficção com “
Manual de Caligrafia” (1977) e “ Levantados do Chão” (1980), onde encontramos
os grandes temas da sua obra: a crítica às desigualdades sociais, a defesa dos
mais fracos, a reivindicação do Humanismo e da Solidariedade como valores
primordiais nas relações entre os homens.
“
Memorial do Convento”, publicado em 1982, estabelece definitivamente o nome de
Saramago na constelação dos grandes escritores portugueses. Neste clássico da
Literatura nacional, Saramago tece uma brilhante narrativa histórica, situada
no início do século XVIII, na qual convivem personagens reais como o Rei D.
João V e Bartolomeu de Gusmão com figuras imaginárias como Blimunda e Baltazar,
cujas histórias se vão entrecruzando num Memorial que celebra a construção do
Palácio de Mafra.
Os
anos 80 e 90 são os da explosão meteórica do fenómeno literário Saramago. Obras
como “ O Ano da morte de Ricardo Reis” (1984), “ Jangada de Pedra” (1986), “ O
Evangelho segundo Jesus Cristo” (1991) – que desencadearia uma polémica que
levou o escritor a mudar-se de Lisboa para a Ilha espanhola de Lanzarote -
Ensaio Sobre a Cegueira (1995) e Todos os Nomes (1997) , projectam o autor para
uma dimensão planetária.
O
Nobel da Literatura, obtido em 1998, é o primeiro de um escritor de Língua
Portuguesa e foi antecedido pelo Prémio Camões ( 1995), o maior galardão
atribuído a autores que escrevem em português. No novo século, sucedem-se
“Ensaio Sobre a Cegueira” (1995), “Todos os Nomes” (1997)e as “As
Intermitências da Morte” (2005).
A
Morte, em 18 de Junho de 2010 , acontece em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, onde
vive com a escritora e jornalista Pilar del Rio, e é apenas um capítulo de uma
História prodigiosa de persistência e talento. José Saramago resistiu a todas
as contrariedades e conseguiu o reconhecimento da Literatura universal.
Hoje
e amanhã e todos os Dias, a Língua Portuguesa, os cidadãos que a escrevem e
falam, os Governos, os seus agentes públicos e privados em todo o Mundo - como
exemplifica a fotografia que acompanha este artigo - tem o dever de abraçar
José Saramago.
A
Língua Portuguesa deve-lhe esse acto de gratidão eterna !!!
www.sotaques.pt
– A Revista dos grandes escritores da Língua Portuguesa
R.
Marques
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