Entrevista com Sotaques a Emília Silvestre : uma atriz total que tem o Teatro no sangue
É uma das grandes referências do Teatro português.
Emília Silvestre compõe em “ Casas Pardas” uma espantosa personagem: a
granítica Maria do Carmo, uma mãe fria e distante cuja única preocupação é
manter as aparências, sacrificando tudo e todos se for necessário.
Entrevistamos Emília Silvestre, uma atriz total que
experimentou, brilhantemente, todos os os géneros – Teatro, Cinema e Televisão.
Mas que gosta de estar em Casa – e a sua Casa é o Teatro onde vai continuar a receber o público, como boa anfitriã, e a
proporcionar-lhe momentos
inesquecíveis e personagens únicas
P
– Em “ Casas Pardas interpreta três personagens – a mãe, Maria do Carmo, a
Mulher II e uma das Carpideiras. Como correu este desafio ?
Emília
Silvestre – É sempre estimulante para um ator fazer
várias personagens diferentes na mesma
Peça. Sobretudo quando há uma certa perversidade nelas, designadamente na Maria
do Carmo, que é uma esposa com um casamento infeliz, de fachada, e à Mulher II, uma figura retrógrada.
P
– Concorda que as personagens más são as mais estimulantes para os atores ?
Emília
Silvestre – Adoro fazer personagens más, porque sinto
que puxam mais pelo ator, obrigam-no a
ter uma elasticidade maior, a ser mais completo, a exprimir-se mais
profundamente.
P – O contexto temporal de “ Casas Pardas”
situa-se nos anos finais do Salazarismo. Que recordações tem dessa época ?
Emília
Silvestre – Guardo boas memórias porque era ainda
criança. Lembro-me dos meus avôs, do ambiente familiar
P
– E em relação à Peça “ Casas Pardas”
como foi o trabalho para materializar o
texto ?
Emília
Silvestre – Foi um desafio permanente: isso vê-se no
texto que é muito exigente e difícil, e nós sentimos que tínhamos de passar
essa reflexão, esse espírito de indagação sobre esse período para o público.
Por outro lado, este é um Espetáculo visto muito sobre
o lado feminino. São sete mulheres em palco a representar personagens, portanto
esse desafio foi ainda maior.
Também pesquisei outros Livros e Romances que abordam
temas ligados ao Estado Novo, para compreender melhor a mentalidade de
personagens como a Maria das Dores.
P
– A Emília é natural do Porto. Gosta do Sotaque tripeiro e dos outros Sotaques
?
Emília
Silvestre – Adoro o Sotaque tripeiro. É tão
característico que gosto muito de ouvi-lo.
Mas também gosto de interpretar Sotaques – já fiz Peças
em que tive de interpretar um determinado Sotaques e é um prazer para um ator
poder fazer isso, porque desafia-o a
conhecer melhor a sua Língua, as diferenças no modo de falar das várias
Regiões.
P
– Conhece o Teatro Brasileiro ? Tem algum autor ou atriz brasileira que admire
?
Emília
Silvestre – Autor diria que o Nelson Rodrigues, que tem
Obras muito fortes e visuais. Enquanto atriz já tive a oportunidade de
trabalhar com a Eva Wilma na Peça “ Turismo Infinito”, que já foi apresentada
no Brasil, que é uma excelente atriz, e
outra grande referência do Brasil é a Fernanda Montenegro.
P
– Gostava que esta Peça fosse representada no Brasil ?
Emília
Silvestre - Gostava
muito. Já tive a oportunidade de trabalhar em Peças que foram apresentadas no
Brasil e gostei imenso da experiência, do contacto com o público brasileiro.
P
– Tem algum papel de sonho que gostasse de representar em 2013 ?
Emília
Silvestre – Para o ano vou participar em em duas peças que admiro muito – “ Dias
Felizes” de Samuel Beckett e “ Macbeth” de Shaekspeatre onde vou interpretar
Lady Macbeth.
São dois papéis magníficos que estou certa me vão dar
grande satisfação fazer.
www.sotaques.pt –
Entrevistas com Sotaques
R. Marques