D. Pedro: um imenso coração do tamanho da cidade do Porto


                    

Poucas cidades criaram um elo de ligação  tão profundo e especial,  com um Monarca, como o Porto com D. Pedro I. O Rei que gritou a Liberdade do Brasil, nas margens do Rio Ipiranga, simboliza para as gentes do Porto o patriotismo, a coragem, a resistência face ao inimigo.
O episódio do Cerco do Porto está no centro da História: D. Pedro após a independência do Brasil, abdica do trono para a sua filha, D. Maria II, que regressa a Portugal para reinar em 1828, jurando cumprir os princípios consagrados na Carta Constitucional de 1826, outorgada pelo seu pai. O seu Tio, D. Miguel de Bragança, recebe a regência do Governo da irmã de D. Pedro, Isabel Maria de Bragança, que governava em nome da sobrinha,   e compromete-se a respeitar a Carta, no entanto, a 13 de Março dissolve as Cortes e,  a 3 de Maio,  convoca o Conselho dos três Estados para dirimir a questão do Direito sucessório do Trono português.
A 25 de Junho, o Conselho proclama Rei absoluto D. Miguel, precipitando o inevitável conflito. Uma Guerra civil e fratricida,  que se prolongou entre 1828 e 1834, e que teve no Cerco do Porto uma das suas batalhas decisivas.
Com efeito, num espaço de um ano – entre  Julho de 1832 e Agosto de 1833 – as forças liberais estiveram sitiadas pelo exército absolutista no Porto. As hostes abriram-se quando uma esquadra liberal, enviada por D. Pedro e constituída por cerca de 60 navios e oito mil homens, desembarcou  no Mindelo, em Vila do Conde, procurando assegurar o domínio no Norte do país.   
Entre outras curiosidades, registe-se que, na esquadra existia um batalhão de académicos, em que pontificavam  Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Joaquim António de Aguiar. O Rei D. Pedro e o escritor  Almeida Garrett, provavelmente os dois maiores símbolos da História do Porto, imortalizados em Estátuas na Avenida da Liberdade, no Porto,  defendiam assim a mesma causa.
No dia 9 de Julho de 1832, o exército libertador entra na cidade do Porto, da qual tinham desertado os absolutistas. Estes reorganizam-se e iniciam um cerco à cidade, que sofre, entre outras contrariedades, o tifo, a cólera e a fome, e as sucessivas investidas aos postos avançados liberais, sobretudo a Serra do Pilar,  que era o único ponto de resistência que tinham na margem sul do Douro.
Apesar das dificuldades, a persistência e  astúcia militar do Marechal Saldanha, coadjuvado pelo capitão de mar inglês, Carlos Napier, leva a sucessivas derrotas miguelistas em batalhas como a Batalha de Ponte Ferreira,  ou as escaramuças  na atual Rua do Heróismo. Saldanha entra  em triunfo na  cidade,  finalmente libertada,  em 20 de Agosto de 1833.
O Rei soldado, D. Pedro, visita a cidade entre 26 de Julho e 6 de Agosto de 1833, em reconhecimento pela resistência heroica dos portuenses. D. Pedro participa em várias cerimónias civis e religiosas, como a entrega das chaves da cidade à Rainha , ou uma oração de graças e um  Te Deum na Igreja da Lapa.
A mesma Igreja que, por vontade testamental, passou em 1835 a albergar o coração de D. Pedro, que ainda hoje pode ser contemplado no edifício. Saliente-se também que, por decreto  redigido   por Almeida Garrett e assinado por D. Maria II, a figura de D. Pedro passou a fazer parte das Armas da cidade do Porto.
Escrevia-se então neste documento que “"as armas sejam esquarteladas com as do reino e tenham ao centro, num escudete de púrpura o coração de oiro de D.Pedro, sobrepojadas por uma coroa de duque, tendo por timbre o "Dragão negro das antigas Armas dos senhores Reis destes reinos", e junte aos seus títulos o de Invicta."
O imenso coração de um Rei que libertou duas Nações,  ainda pulsa na mui nobre e sempre Invicta cidade do Porto, que o ama incondicionalmente.

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R. Marques