Livros com sotaques: "As Causas da Decadência dos povos peninsulares"



Nas últimas décadas do Século XIX, o mundo fervilhava  impulsionado por uma Europa em pleno  apogeu. Economicamente, a Revolução Industrial modificava não só a feição industrial dos povos como  aumentava a produtividade  e o bem-estar,    ideologicamente  os novos ventos da História trazidos por Marx, Engels, Proudhon ou Saint Simon,  faziam adivinhar o advento de um novo Tempo,   mais próspero e humano. 
Em Portugal, porém, as novas ideias não circulavam: foi para deixar entrar a modernidade, no país, colocando-o a par do desenvolvimento que sucedia nos outros países europeus,  que se organizaram as Conferências do Casino Lisbonense  ou Conferências democráticas em 1871, em Lisboa. 
Delas resulta um livro que ainda hoje é uma referência quando se pensa Portugal : "As causas da decadência dos povos peninsulares". A obra, gerada a partir da Conferência proferida por Antero de Quental, com o mesmo título, é uma profunda imersão nos motivos  que levaram  Portugal e Espanha a atrasar-se face aos restantes países europeus.
Antero enumera três causas: o triunfo da Contra-reforma, dirigida pelos Jesuítas, no interior da Península Ibérica, não beneficiando da lufada de ar fresco que foi a Reforma protestante a nível de ideias e mentalidades - como ocorreu na restante Europa - a centralização política decorrente da Monarquia Absoluta  e, por último, um  sistema económico ruinoso propiciado pelos Descobrimentos, que nunca foram aproveitados para catapultar a economia,  antes servindo como recurso explorado até à exaustão  por uma  aristocracia ociosa  e nada empreendedora,  que vegetava  à sombra do ouro e das especiarias vindas das Colónias.  
Obra imprescíndivel para compreender os grandes males que afectam o país, no passado e na atualidade, " As causas  da decadência dos povos peninsulares" é, por isso,  um Livro com Sotaques,  e um destaque natural  na nossa evocação do grande poeta e pensador, Antero de Quental. 

Autor: Rui Marques