Fernanda
Montenegro e Eunice Munõz: o grande Teatro no feminino
Fernanda
Montenegro é provavelmente a atriz brasileira mais reconhecida e respeitada do
século XX e XXI. Para isso contribuiu uma carreira impar que começou pelo
Teatro, passou pela Televisão e pelo Cinema, e a levou à nomeação para o Óscar
de melhor actriz em 1998, e a vencer, na categoria de melhor filme, os
Festivais de cinema de Berlim e o Globo de Ouro para melhor filme estrangeiro
com Central do Brasil, realizada por Walter Sales.
Arlette Pinheiro
Esteves Torres, que depois adoptou o nome artístico de Fernanda Montenegro,
nasceu no Rio de Janeiro em 1929. A sua
ligação ao Teatro vem da adolescência, pois inscreveu-se aos 15 anos num
Concurso para locutoras na rádio MEC, foi aceite e começou a trabalhar como locutora e,
posteriormente, a fazer rádio novelas.
Em 1950
inicia a sua carreira nos palcos teatrais com a peça “ Alegres canções na Montanha”, ao lado do
marido Fernando Torres. Paralelamente também começa a trabalhar na TV Tupi do
Rio de Janeiro – é a primeira actriz contratada por esta emissora – e entre
1951 e 1953 participa em 80 peças exibidas nos programas “ Retrospectiva do
Teatro Universal” e “ Retrospectiva do Teatro Brasileiro”.
Fernanda
Montenegro teve uma extraordinária carreira no Teatro, Televisão e Cinema. No
Teatro interpretou os grandes dramaturgos brasileiros e estrangeiros – Nelson
Rodrigues, Millôr Fernandes Augusto
Boal, Tchekov, Beckett, Harold Pinter – no cinema para além do grande êxito que
foi “ Central Brasil” participou em inúmeros filmes – e na Televisão deixou a
sua marca em novelas como “ A Guerra
dos sexos”, ao lado de outra grande figura
da representação brasileira, Paulo Autran, “Cambalacho” , “
Sassaricando” ou a mais recente “ As Brasileiras”.
Eunice Muñoz
teve a melhor Escola de aprendizagem teatral que uma atriz poderia desejar.
Nascida em 1928, na Amaraleja, no
Alentejo profundo, veio estudar para o Conservatório em Lisboa,
iniciando a sua vida profissional na Companhia de Teatro Rey Colaço/ Robles
Monteiro em 1941 com a peça “ Vendaval” no Teatro Nacional D. Maria II.
Amélia Rey
Colaço é considerada, por unanimidade, a
mais importante atriz portuguesa da primeira metade do século XX, e a Companhia
Rey Colaço/Robles Monteiro era, naquela época, a grande referência em termos de grupos
teatrais. Por isso, essa passagem de testemunho entre Amélia Rey Colaço e
Eunice Muñoz, foi muito importante para a sua afirmação como actriz.
Compatibiliza
os seus trabalhos no Teatro Nacional com a participação em peças no
Teatro de Variedades, ao lado de Vasco Santana e Miriam Casimiro. Tal
como Fernanda Montenegro , atua no
cinema em filmes como “ Camões” de Leitão Barros, que lhe valeu ,em 1946, o prémio do Secretariado nacional de informação
para melhor actriz de cinema do país.
Os
paralelismos entre Eunice Munõz e Fernanda Montenegro não acabam aqui : ambas
possuem um infindável número de peças teatrais com os grandes autores nacionais
e estrangeiros – Eunice interpretou, por exemplo, várias peças de Almeida
Garrett ou José Régio, entre outros autores nacionais – foram reconhecidas
pelos seus trabalhos no cinema e deixaram-nos personagens inesquecíveis nas
novelas – destaque para a figura de Dona Branca inspirada num caso real, interpretada
por Eunice Muñoz, na novela “ A Banqueira do povo” de Walter Avancini em 1993.
Mas o que as
une mais, para além de serem da mesma geração – com um ano de diferença – é o
talento polifacético que revelam. E que só as grandes atrizes e actores conseguem
ter com tanta exuberância e riqueza no Teatro, Cinema e Televisão.
Autor: Rui
Marques