A Poesia é uma paixão que une o
Atlântico. Os portugueses e os brasileiros amam-na profundamente, porque é nela
que a Língua portuguesa desagua com maior fluência, beleza, simetria,
perfeição.
A nossa Língua é como um mar poderoso
que se alimenta dos Rios da lusofonia – de Portugal, do Brasil, de África, de
todos os lugares onde se fala, se escreve, se pensa, se sonha, se ama em
português. Neste dia mundial da Poesia homenageamos dois grandes poetas:
Eugénio de Andrade e Ferreira Gullar, dois artistas que modelaram a língua como
uma pedra preciosa, em que nada está a mais no poema – ele contêm todo o
significado – e que compartilham a honra de ter ganho o Prémio Camões.
Eugénio de Andrade é o pseudómino
literário de José Fontinhas – nascido a 19 de Janeiro de 1923, na freguesia de Póvoa da Atalaia, no Fundão.
Foi viver para Lisboa aos dez anos, com a mãe, tendo frequentado o Liceu Passos
Manuel e a Escola técnica Machado de Castro, começando a escrever os primeiros
poemas na adolescência.
Mais tarde inicia uma carreira de funcionário público como
inspector administrativo do Ministério da Saúde e, fruto de uma transferência
de serviço, muda-se para o Porto em 1950. Dois anos antes viu a sua obra “ As mãos e os frutos” ser
aplaudida pela crítica e merecer rasgados elogios de intelectuais como Jorge de
Sena ou Vitorino Nemésio.
A sua poesia caracteriza-se por uma
depuração cuidada da palavra, um lirismo
que exalta a natureza e deixa o leitor maravilhado. Ganhou prémios tão
importantes como o Grande prémio de poesia da Associação portuguesa de escritores
( 1989) e o prémio Camões ( 2001), vindo a falecer em 2005 vítima de uma doença
oncológica.
É unanimemente considerado um dos
grandes vultos poéticos da segunda metade do século XX português.
Também Ferreira Gullar é um pseudómino literário do escritor brasileiro
José Ribamar Ferreira que nasceu a 10 de Setembro de 1930, em São Luís. Fez
parte dos movimentos literários do seu tempo – do movimento pós-modernista no
Maranhão e no Rio de Janeiro no movimento da poesia concreta.
Na sua obra destaca-se o célebre “Poema
Sujo” ( 1975), escrito no exílio provocado pela repressão da
Ditadura militar brasileira aos intelectuais brasileiros , e gravado por
Vinicius de Moraes. Poema “Sujo” é uma pedrada no charco do formalismo poético
através de uma linguagem que nos impressiona pelo uso do calão e da gíria com
conotações sexuais, demonstrando uma liberdade que era muito rara na época.
Tal como Eugénio de Andrade, Ferreira
Gullar venceu o prémio Camões em 2010. Ambos são duas vozes singulares no
universo poético da Língua portuguesa.
Homenageamo-los hoje neste dia mundial
da poesia. Aos amigos do Sotaques pedimos que os leiam com devoção religiosa e
prazer.
A eles e a tantos e tantos poetas
portugueses e brasileiros. Porque se há atividade humana que nos aproxima de um
Deus criador, essa é indiscutivelmente a arte da poesia.
Autor:
Rui Marques