Camilo Castelo Branco: Biografia de escrita e paixão



Amava demais. E escrevia com a cadência e a  fúria avassaladora dos apaixonados. 
Camilo Castelo Branco nunca separou a escrita do amor. Não só nos legou " Amor de Perdição", certamente a obra mais poderosa alguma vez escrita por um romancista português sobre a crueldade dos amores,  como ele próprio, em vida , foi uma personagem profundamente romântica.
Camilo Castelo Branco nasceu em Lisboa a 16 de Março de 1825 na Freguesia dos mártires. Foi registado como filho de mãe incógnita - curiosamente tal como o outro grande romancista português do século XIX, Eça de Queiroz- e foi  viver para Trás-os-Montes com parentes  devido à morte do pai. 
Com apenas 16 anos, o ainda adolescente Camilo apaixonou-se por Joaquina Pereira de França de 15 anos , em Ribeira da Pena, casou-se com ela e fruto dessa relação nasceu uma filha. Posteriormente conheceu  em Vila Real Patrícia Emília do Carmo de Barros, num regresso da vida académica no Porto,  os dois fugiram para Coimbra e acabaram por ser presos na Cadeira da Relação do Porto -  quando foram libertados mantiveram a relação e dela nasceu  Bernardina Amélia.
A relação mais duradoura de Camilo foi com Ana Plácido.  Era casada com Manuel Pinheiro Alves, mas apaixonou-se por Camilo Castelo Branco e essa ligação adúltera levou o marido a processá-la por adultério em 1860 - foi presa e o escritor entregou-se ficando os dois prisioneiros na Cadeia da Relação do Porto. 
Depois da morte de Manuel Pinheiro Alves,  foram viver juntos e tiveram três filhos . Ana Plácido era uma mulher talentosa que o ajudava nos seus projectos literários e  também escrevia sob pseudónimo: acabou por sobreviver  ao suicídio do poeta em São Miguel de Seide, Vila Nova de  Famalicão a 1 de Junho de 1890, devido  à  perda progressiva da visão causada pela Sífilis que deixou  Camilo sem poder ler ou escrever, uma dor a que não resistiu matando-se com um tiro de pistola. 
Com esta intensa Biografia amorosa que está incompleta - conhecem-se relações fugazes com a Freira Isabel Cândida Vaz Mourão, Maria Isabel do Couto Browne ou a Governanta Carlota de Sá - não espanta a riqueza e profundidade das suas obras. " Amor de Perdição", " Memórias do Cárcere" são indissociáveis da sua experiência na Cadeia da Relação, " A Brasileira de Pranzins" ou " Eusébio Macário" nunca seriam escritas sem o seu mordaz conhecimento dos vícios da burguesia e pequena aristocracia rural, e " A queda de um Anjo" revela uma visão sarcástica dos meandros da política, relatando a ascensão e queda de um ingénuo deputado de província no Parlamento, onde sucumbe aos cantos de sereia do poder. 
Em todas elas adivinha-se a mestria de um escritor que foi considerado por Miguel de Unamuno como o maior romancista da Península Ibérica. Camilo Castelo Branco - o homem que escrevia e amava com a mesma entrega absoluta e apaixonada. 

Autor : Rui Marques