Pessoa : plural , infinito e misterioso

 

É o que se pode chamar um casamento feliz e inevitável. Entre a mais importante Fundação portuguesa do século XX - Fundação Calouste de Gulbenkain- e o poeta nacional mais representativo, Fernando Pessoa. 
A  Exposição " Fernando Pessoa: Plural como o Universo" foi inaugurada hoje  e estará patente até 30 de Abril, na Fundação Calouste  de Gulbenkian. Tem  como curador um dos maiores especialistas na obra pessoana, Richard Zenith, e envolve-nos  numa abordagem fascinante  das  múltiplas facetas de um escritor único na sua diversidade.
Os heterónimos de Pessoa, a sua criação mais invulgar e que o tornam num escritor único, sem paralelo na história de Literatura,  resultam de uma extraordinária capacidade de  multiplicação da personalidade criativa do autor - Álvaro de Campos era o engenheiro virado para o futuro,  Alberto Caieiro, o bucólico pastor que observava as terras, as estrelas, os animais, a ruralidade, Ricardo Reis, o  médico nascido  no Porto que aceitava a simplicidade das coisas, relativizando-as e que acabou por emigrar para o Brasil,  e Bernardo Soares, o  espírito inquieto, indisciplinador  de almas na sua célebre caracterização,  que criava do nada esse imenso universo de pensamento e interrogação do mundo que é " O livro do Desassossego" . 
Falta obviamente, nesta lista, o próprio Fernando Pessoa. Que se define na famosa Autopsicografia nestas palavras que se aplicam, universalmente, a todos os poetas, a toda a poesia " O poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente". 
Fernando António Nogueira Pessoa, nascido em Lisboa em 13 de Junho de 1888 e falecido na mesma cidade aos 47 anos, em 30 de Novembro de 1935, permanece um mistério. Como aqueles cometas que aparecem, uma vez nas nossas vidas, nos marcam e nos deixam precocemente com a memória da sua brilhantez, do seu fulgor literário. 
Quantas pessoas viveram no interior de Fernando Pessoa ? Quem foi  ele e quantas vidas viveu dentro de si ? 
O menino que escrevia poemas em inglês, na sua infância em Durban, na África do Sul, o tipógrafo, correspondente comercial, tradutor, funcionário que vivia  numa estranha obscuridade na vida pública, o amante frágil  de Ofélia que insistia em lhe  escrever ridículas cartas de amor,  o fulgurante poeta que escreveu esse hino da pátria e das pátrias presentes e futuras que é a Mensagem, ou  o criador divino que, num sopro de imaginação, esculpiu poetas que ganharam vida nas páginas da Literatura portuguesa. 
Nunca saberemos quem foi Fernando Pessoa. Ele próprio o disse nestes versos iniciais da Tabacaria " Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer nada, à parte isso tenho em mim todos os sonhos do mundo". 

Autor: Rui Marques