Carlos Paredes: o homem que fazia amor com uma Guitarra portuguesa


Dedilhava a Guitarra com a delicadeza de quem afaga os cabelos a uma amante. Com ternura, graciosidade, com uma sensibilidade única sem nunca perder a perfeição artística, o rigor, a capacidade de interpretação. 
Carlos Paredes nascido a 16 de Fevereiro de 1925 em Coimbra,  estava marcado pela música e pela Guitarra. O seu pai era o mítico Artur Paredes, grande mestre da Guitarra de Coimbra, e  tinha ensinado toda uma Geração a fazer magia com um instrumento que diziam, alguns, não era melódico. Por motivos da vida profissional do pai - funcionário no Banco nacional ultramarino- a família muda-se para Lisboa 1934, e o jovem Carlos começa a colaborar musicalmente  com o pai num programa da Emissora Nacional em 1949.
Concluído o Ensino Secundário, torna-se funcionário administrativo no Hospital de São José. É saneado pelo regime de Salazar  que o acusa de um crime de lesa-pátria - era militante comunista - e conta-se que Carlos Paredes passava o tempo na cela, fingindo tocar na sua amante, a Guitarra, imaginando esse breve ato de amor no meio de tanta injustiça e sofrimento. 
Saído da prisão e reintegrado na sua função anterior no Hospital, Carlos Paredes compõe em 1962 a obra-prima da música instrumental portuguesa do século XX - a composição " Verdes anos"- para o filme com o mesmo nome da autoria de Paulo Rocha. Uma história de amores violentos e desencontrados de um homem que vem do campo para Lisboa, se apaixona, e mata o amor que lhe foge, tragicamente, numa sequência final impressionante - na rua, ele de faca ensanguentada, ela morta, e uma multidão de carros a representar a cidade esmagadora e omnipresente . 
Grava o seu primeiro LP em 1967 " Guitarra Portuguesa", toca com Carlos do Carmo, Zeca Afonso e Charlie Haden, e os Discos como "Movimento perpétuo",  " Concerto em Frankfurt", " Espelho de sons" e " Asas sobre o mundo" sucedem-se entre os anos 70 e 80. É já dentro da década de 90 que lhe diagnosticam uma doença mielopia - fruto da qual morre em 2004.
O homem que fazia amor com a Guitarra Portuguesa deixou-nos no século XXI. Que os seus herdeiros continuem a cumprir o seu legado - a Guitarra ama-se, incondicionalmente, com a ternura e devoção total  dos amantes. 

Autor: Rui Marques