Entrevistas com Sotaques












A Alquimia da música em Rodrigo Leão

A magia está no ar no novo Álbum de Rodrigo Leão. É uma alquimia dos sons, uma depuração das emoções, uma mistura improvável de géneros musicais,  instrumentos, cantores, que se juntam para um resultado que é, ao mesmo tempo, de uma simplicidade desarmante e de uma riqueza complexa e bela.

" A Montanha mágica", que Rodrigo Leão ergueu como uma Sinfonia perfeita,   é uma viagem de regresso à infância, ao mar, ao interior de nós mesmos. Nesta entrevista realizada na Casa da Música do Porto,  Rodrigo Leão falou ao Sotaques   do novo Álbum , da admiração que sente pela música brasileira e do desejo de apresentar " A Montanha mágica"  no Brasil, do seu percurso profissional ao longo das últimas décadas, mas mais importante que isso, revelou que a infância é um território de criatividade, de paixão pela arte e pela música, de desejo  de experimentar a que todos nós devemos retornar, afectivamente,  para enriquecermos  as nossas vidas.


P- Como definiria este novo Álbum ?
 R- A Montanha mágica surgiu no seguimento de dois trabalhos- " A mãe" e a reedição de  " A Ave Mundi"- em que estiveram envolvidos muitos convidados como a Orquestra Sinfónica de Lisboa e, por isso, senti que este novo Álbum tinha de ser diferente, mais simples. O facto deste Disco ter sido criado  no Alentejo ajudou a este propósito:  foi composto na Planície alentejana a pensar  na Praia do Norte  na Ericeira, que foi a praia da minha infância e adolescência, e esse espírito de experimentação está presente em todas as músicas.
O nome Montanha mágica vem dessa Montanha de imaginação, de sonho que me impulsa a criar novos sons e a experimentar de um modo livre e simples. 

P- Esse lado experimental também é patente no próprio espectáculo?
R- Sim. Por exemplo, neste novo Disco não uso o sintetizador, prefiro recorrer a outros instrumentos, toco guitarra, algo que não acontecia desde os Sétima Legião, e também há uma mistura de instrumentos diferentes que me levaram a alterar a minha forma de compor. Considero-me um autodidacta e, senti que neste Álbum esse lado criativo,  foi muito intenso e recompensador.

P- Actuou na Casa da Música, no Porto. Como foi a recepção do público do Porto?
R- Foi magnífica. O público do Porto acolheu-nos muito bem,  para além de que é um privilégio actuar num espaço com a qualidade da Casa da Música.  

P- Neste Álbum colabora o músico brasileiro Tiago Pethit. Como surgiu esta parceria ?
R- Foi através do meu manager António Cunha que conhecia o Thiago Pethit e mo apresentou. Mais tarde, quando já estava a compor uma das músicas de  " A Montanha mágica" senti que o Tiago poderia colaborar no Disco, enviei-lhe a maquete  e ele aceitou aderir ao Projeto.

P-Curiosamente não é a primeira participação de músicos brasileiros nos seus Discos?
R-  É a terceira vez: primeiro foi com Adriana Calcanhoto em Ave Mundi ( em 2000), e mais tarde  com Rosa Passos que cantava uma música " Rosa", dedicada à minha filha,  no Disco " Cinema"(2004). 
Sempre admirei a música brasileira, ouvi muito os novos baianos, Caetano, Bethânia, Gal Costa na minha juventude. Por outro lado, tenho boas recordações do público brasileiro quando estive lá com os Madredeus, é  um povo caloroso e muito musical, aliás, a música faz parte da vida das pessoas. 

P- Gostava de apresentar este Álbum no Brasil em 2012 ? 
R- Sim gostava. Temos alguns contactos estabelecidos e espero que seja possível concretizar essa hipótese.

P- O Projeto cultural Sotaques aposta no aprofundamento da relação entre Portugal e o Brasil. Que importância acha que tem esta relação entre os dois povos ? 
R- Acho que essa relação só nos enriquece a nível cultural e musical. Tem de ser mais trabalhada e aprofundada para dar mais frutos a todos os níveis.

P- O Rodrigo atravessa três décadas de música portuguesa. Como analisa a evolução do nosso panorama musical ? 
R- Quando comecei a minha carreira, o meio era mais pequeno,  os grupos conheciam-se - os Heróis do Mar, os Rádio Macau, os Xutos- emprestavam instrumentos uns aos outros. Houve um grande crescimento em termos de estúdios, de condições de trabalho, de divulgação dos Discos dos artistas.
Hoje em dia há uma grande diversidade musical: grupos como os The Gift ou os Gaiteiros de Lisboa oferecem uma grande variedade e capacidade de escolha ao público. Não é só a Literatura ou a Pintura: a música atravessa um grande momento em Portugal. 

P- Em 1995 deixou os Madredeus e empreendeu uma carreira a solo. Sentiu que tinha de trilhar o seu próprio caminho?
R- Tenho óptimas recordações dos Madredeus e, neste e nos outros Discos, há influências óbvias das suas músicas no meu trabalho, mas quis experimentar novas linguagens. O meu objectivo quando deixei os Madredeus era compor para um trio de cordas, mais tarde passei a usar o Acordeão nos meus espectáculos, e a misturar estilos como o  Tango, a música Francesa, a música brasileira  à procura de sonoridades mais melódicas. 

P- Rodrigo Leão: o que é que   procura na música  ? 
R- Procuro uma filosofia que me permite viver com mais tranquilidade e continuar a criar.

P- E o que é que encontra nessa serenidade ?
R- O desejo de continuar a fazer mais música.

Autor: Rui Marques