O pensador de Portugal

Falar de Eduardo Lourenço em Portugal é como referir Gilberto Freyre no Brasil. São dois antropólogos das suas respectivas realidades  nacionais , embora nunca tenham estudado Antropologia, na medida em que são dois intelectuais cuja obra está intimamente associada à dissecação das causas da identidade pátria, dos motivos que condicionam colectivamente os seus respectivos países ao longo da História.
Eduardo Lourenço, nascido a 29  de Maio em São Pedro de Rio seco, no Concelho da Guarda, desde cedo mostrou grandes aptidões para o ensaio literário. Licenciado pela Universidade de Coimbra na área das Ciências Históricas e Filosóficas, torna-se professor desta Universidade,  mas sobretudo assume-se como um escritor livre no tempo de Salazar: publica " Heterodoxias", uma obra que não só é uma lufada de ar fresco na crítica literária como um manifesta corajoso que desafiava a Ditadura de pensamento que impunha o Estado Novo.
Obras como "Fernando Pessoa Revisitado", " O Fascismo nunca existiu" ou a magistral leitura de Portugal que fez em " O Labirinto da Saudade" compõem uma bibliografia riquíssima em que Portugal é permanentemente biografado  e analisado através das suas grandes figuras e acontecimentos históricos. O Prémio Fernando Pessoa 2011 que recebeu esta semana é, por isso, justíssimo: como Pessoa nesse monumento que é " O livro do Desassossego", os livros de Eduardo Lourenço são um espelho de desassossego e reflexão, onde nos olhamos e conhecemos como portugueses, uma base  a partir da  qual podemos construir um país melhor.


Autor: Rui Marques