A pátria de Fernando Pessoa é uma realidade

  
  Quase duzentos  anos depois do famoso Grito do Ipiranga,  pela primeira vez na história desde o momento em que o Brasil se tornou um país independente e soberano de Portugal, podemos afirmar que partilhamos, verdadeiramente,  a mesma Língua. Na escrita e na leitura, na entoação das palavras já não existem fronteiras ou barreiras, muros culturais que antes nos separavam, a Língua portuguesa  é de todos e para todos, um bem que tem o ADN dos portugueses e brasileiros.  

 Portugal e Brasil são como dois pais que têm um filho em comum. Doravante temos de cuidá-lo,  alimentá-lo, vê-lo crescer, tornar-se mais forte, neste mundo onde a palavra crise se tornou num fantasma omnipresente.  
Pois bem, meus amigos portugueses e brasileiros, esta crise é a nossa oportunidade.  Estamos juntos, os dois povos, num mesmo desafio, numa causa aglutinadora: promover o conhecimento mútuo, congregar esforços, aproximar as regiões dos dois países,  no conhecimento dos Sotaques que nasceram e cresceram  no decurso da   longa história das relações luso-brasileiras.
Num sentido profundo do termo, somos herdeiros dos homens e mulheres que protagonizaram o 7 de Setembro de 1822. De D. Pedro, das elites  brasileiras do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas, dos portugueses que sonharam criar uma nova Nação,  noutro Continente. Mas também fomos herdeiros, anteriormente, do extraordinário legado linguístico e mítico do Padre António Vieira ou do suor dos Bandeirantes,  que desbravavam o território brasileiro e  dos Jesuítas na  propagação  da fé entre as populações locais.

No século XX, contraímos  uma extraordinária dívida histórica  em relação a   figuras que nos aproximaram: Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Machado de Assis, Vinícius de Moraes, Carlos Drumond de Andrade, Gilberto Freyre,  o movimento musical da Bossa Nova, músicos, escritores, ensaístas que enriqueceram a língua portuguesa por via dos  caminhos diversos que foram trilhando,  através da sua criatividade. Essa diversidade dentro da unidade,  é que nos torna revolucionários com causa e que faz do Sotaques um projeto especial e original.
A grande Nação brasileira é filha dessa originalidade.

O desafio do Sotaques, de todos nós, é fazer essa nova revolução da Língua de Pessoa ou Machado de Assis  no século XXI e torná-la, definitivamente,  numa riqueza comum que possamos transmitir aos nossos filhos, num Grito do Ipiranga,  que também eles possam dar com orgulho e convicção.

A nossa Pátria - a Língua- precisa que a alimentemos e cuidemos. Viva a Pátria. Viva a Língua portuguesa !!!