O 7 de Setembro





Nota introdutória: Nada do que vai ser escrito em seguida retira importância ao simbolismo que um Dia da Independência como o 7 de Setembro tem como a data que marca o início do Brasil como Nação Independente, e que passou a gerir os seus próprios destinos.




 A história está cheia de originalidades, e também de lendas e mitos, provocados por interesses, mais ou menos obscuros.

O 7 de Setembro é uma data emblemática, com uma carga simbólica muito forte, e que por isso permanecerá para sempre como o Dia da Independência. Mas, segundo estudos credíveis*, não é a data mais importante no processo de independência do Brasil, se virmos a história de modo rigoroso.

 Esses estudos apontam o 7 de Setembro como uma criação, feita a posteriori por fações adeptas de D. Pedro, (ou até do próprio Regime)  e que visava legitimar D. Pedro I, num momento em que já era olhado com desconfiança por alguns sectores da sociedade brasileira, por o considerarem, a dada altura, um ditador. 


É bem provável que a cena no famoso quadro de Pedro Américo, de 1888, em que D. Pedro aparece a cavalo, de espada no ar, a gritar "independêcia ou morte" possa não ter acontecido. Este quadro, e alguns testemunho surgidos alguns anos depois, e que dizem ter estado no Ipiranga e assistido ao famoso Grito,  terão sido encomendas.

O dia 9 de Janeiro de 1821, dia do fico (quando D. Pedro recebe instruções para regressar a Portugal e se recusa) e o dia 12 de Outubro (o dia da Aclamação) serão mais importantes do que o 7 de Setembro, em termos históricos. 

 Que não se julgue, apesar disto, que D. Pedro não foi um dos atores principais no processo independentista. Ao não regressar a Portugal, conforme lhe era exigido, D. Pedro deitou mais uma acha para a já enorme fogueira independentista que tinha focos em várias regiões do Brasil.

 Sem o apoio de Câmaras importantes como a de Minas Gerais, Rio de Janeiro ou São Paulo, sem a participação de algumas figuras brasileiras influentes, como José Bonifácio, e a colaboração das elites brasileiras, a Independência do Brasil não se teria dado naquele momento nem naquelas circunstâncias. Era inevitável, mas aconteceria numa outra data.
Curioso é o facto de um português, filho de um rei português, ao serviço do seu país, ter proclamado a independência de um outro país! Talvez o sentisse como seu. Foi para lá menino e fez-se ali homem. Ainda por cima um príncipe, rodeado de de tudo o que era bom. Voltava lá ele para o enfadonho Portugal! Eu fico, claro!

D. Pedro tinha o gene da originalidade. O seu pai, D. João VI, cometeu, anos antes, um ato singular, ao deixar Junot a ver navios, literalmente, e Napoleão à beira de um ataque de nervos aquando da invasão francesa de 1807. A “fuga”, ou, melhor dizendo, a manutenção da independência portuguesa em relação à França, consumada com a viagem da corte portuguesa para o Rio de Janeiro , e que muitos autores consideram uma retirada estratégica genial**, permitiu um dois em um (2x1) nunca antes visto: manutenção da independência portuguesa em relação à França e preparação para a independência do Brasil. É uma tacada magistral, em que sabemos onde vai entar a primeira bola, mas temos que esperar para ver onde vai parar a segunda!



* http://arquivoetc.blogspot.com/2010/09/invencao-do-7-de-setembro-isabel.html

** Os ingleses foram colaboradores ativos neste processo de retirada da corte para o Brasil.