Alua Pólen: um casal com 30 anos de amor à arte

Alua Pólen é um anagrama que junta os nomes do casal de artistas formado por Manuel António e Paula Dacosta. Uma união afectiva e artística com 30 anos de ligação,  que nos tem deixado grandes obras como o famoso Túnel da Confraria de Vizela, em que formaram durante dois anos,  mais de 3000 meninos e meninas, em 2007,  para criar o maior Túnel  do mundo pintado por crianças.
A revista Sotaques falou com o pintor Manuel António,  Pólen, sobre este matrimónio artístico,  consolidado ao longo das décadas.

P – Como  surgiu este projecto artístico e de vida com mais de 30 anos ?
AP – Tanto eu como a Paula éramos empregados de escritório. Eu, paralelamente, também desenvolvia a minha actividade artística, conheci-a e pedi-lhe que fosse a minha ajudante.
Conversamos muito sobre o futuro,  e daí surgiu este projecto que continua vigente até aos dias de hoje.

P – Que balanço fazem deste projecto ?
AP – Muito positivo. Em primeiro lugar, nunca sonhávamos  que a arte nos desse a autonomia que temos actualmente.
Ao princípio,  pintávamos em papel de embrulhar bacalhau, com poucos recursos, em locais pequenos como cafés ou gelatarias. Mas o nosso trabalho foi sendo reconhecido, pelo público e pela crítica, e foi muito gratificante este reconhecimento.
Em 2012,  fizemos uma retrospectiva em Gondomar da nossa carreira artística, e foi emocionante ver quantas pessoas conheciam a nossa obra.

P – O túnel de Vizela foi um momento especial nessa carreira ?
AP – Sem dúvida. Foi um projecto muito importante.
Vivemos durante 12 anos em Vizela, onde também estivemos ligados à formação e ao ensino, e no âmbito dessa actividade, surgiu o projecto de dar formação a mais de três mil crianças para pintarem o Túnel da Confraria de Pêras, nesta cidade.
O Túnel demorou dois anos a estar pronto, com as pinturas acabadas, e quando foi inaugurado, em 2007, era o maior Túnel de azulejos  pintado por crianças do mundo – com 2000 metros em pinturas.  Foi um momento extraordinário pela experiência e pela autonomia financeira que nos proporcionou, permitindo-nos comprar uma casa no Parque Nacional da Peneda- Gerês, em Castro Laboreiro,   onde vivemos.

P – Ensinar crianças é diferente  ?
AP – Penso que as crianças são pequenos génios. A escola é muito formatadora, molda a sua criatividade, e eu acho que devemos dar liberdade criativa às crianças.
Se o fizermos, elas são capazes de obras extraordinárias.

P – Pode descrever-nos o vosso processo criativo ?
AP -  Nós partimos do abstracto para o simbólico, numa rotação de 360 graus,  que transforma um quadro inicial em algo completamente distinto. Ou seja: juntamos duas ou três cores – o azul e o lilás, por exemplo -  usamos a química e criamos livremente, sem nenhuma imposição, um pouco à imagem do que faziam artistas como o Picasso.
É algo intuitivo, uma herança cósmica que sentimos dentro de nós, e que se vai manifestar numa forma final que nunca sabemos, à partida, como irá ser.
Costumo dizer que eu não sei pintar:  eu disfarço aquilo que sai.

P – Quais foram as suas grandes inspirações na pintura ?
AP – A minha principal referência foi o meu mestre,       Moreira de Azevedo, um académico e  artista português que tinha uma Escola em Brasília,  que nos  dava- uma lavagem mística,  desafiando-nos  sempre a seguirmos o nosso próprio caminho.

P – O intercâmbio entre artistas portugueses e brasileiros é muito importante também nas artes plásticas ?
AP – É vital que os artistas circulem entre o Brasil e Portugal, que dialoguem entre si. Isso só enriquecerá a sua arte.

P – Vivem em Castro Laboreiro, uma zona com uma enorme beleza paisagística. Como é que este meio inspira o vosso trabalho ?
AP – Castro Laboreiro tem moldado a minha arte. Quando olhamos à nossa volta,  sentimos que o olhar do artista está em todo o lado: na textura de uma árvore, nas formas do granito, que são um capricho dos Deuses, e essa é uma engenharia positiva que impele o meu subconsciente a criar.

P – O que é a pintura para o Manuel António ?
AP– A pintura é uma forma de podermos sintetizar a forma poética de estarmos vivos. Desde os catorze anos trabalhei num escritório, mas mesmo nessa fase,  eu tinha necessidade de me expressar através do papel, de desenhar, de tirar essa pressão de estar fechado num local de trabalho.
Quando saio com amigos, não consigo estar mais de duas horas com eles. Tenho um desejo enorme de voltar a pintar.

António Santos

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