Morria a 18 de Junho de 2010 o escritor português José Saramago. Quatro anos sem um escritor, que deixou marcas profundas na Literatura mundial, afirmando-se como um cidadão exemplar, de causas, sem medo de denunciar os desmandos do poder.
A vida deste eterno resistente é, ela própria, um romance. Nascido em 1922 numa família pobre de agricultores da Golegã, no Distrito de Santarém, Saramago veio com os pais para Lisboa aos dois anos.
Devido a dificuldades económicas não frequentou a Universidade, embora se tornasse num assíduo leitor da Biblioteca Municipal, situada no Palácio de Galveias. O seu primeiro trabalho foi como torneiro mecânico, tornando-se posteriormente funcionário público – entretanto publicou, em 1947, o romance “ Terra do pecado” que teve um acolhimento frio.
Apaixonado pela literatura, José Saramago trabalhou nas décadas seguintes em editoras, foi tradutor e jornalista – nesta condição, foi Director do Diário de Noticias durante um breve lapso de tempo.
Os ventos do 25 de Abril e da democracia trouxeram, definitivamente, a consagração pública de José Saramago, no meio literário português. Obras como “ Levantado do Chão” em 1980 e, especialmente, “ Memorial do Convento” em 1982, que retrata os amores imaginários de Baltazar e Blimunda no Palácio de Mafra, no reinado de D.João V.
A partir daí livros como “ O ano da morte de Ricardo Reis”, “ O evangelho sobre Jesus Cristo”, “ Jangada de Pedra” ou “ Ensaio sobre a Cegueira” elevaram-no à condição de ícone da literatura portuguesa. O Nobel que recebeu em 1998 foi apenas o cume de uma escalada íngreme, nada fácil, de alguém que, com trabalho e talento, venceu os condicionalismos externos.
Paralelamente, nunca deixou de escrever artigos em jornais, de participar em manifestações. O cidadão Saramago nunca se calou, apesar dosprémios e das homenagens institucionais.
José Saramago foi escritor insubmisso como muito poucos na história literatura mundial do século XX. Um homem e um escritor de causas como é raro encontrar.
www.facebook.com/sotaques -Cultivamos a palavra dos escritores portugueses e brasileiros
R. Marques