Ligados à corrente



O Teatro tem uma caraterística que o torna, simultaneamente, frágil e profundamente poderoso: é uma arte que (sobre)vive quase despojada de meios, que consegue conviver, saudavelmente, com outras artes. Ontem vimos esse espírito de resistência contra a falta de recursos no espectáculo Rua da Alegria – Concerto para duas atrizes e dois músicos, Teatro a quatro - no Teatro Carlos Alberto no Porto. 
Inserido na Mostra de criações incógnitas – Corrente alterna – este encontro e desencontro de personagens e músicos no meio do deserto de perspectivas que é o Estado do Teatro em Portugal, fez-nos pensar, reflectir, emocionou-nos. De um lado, um pianista, do outro, um músico que tocava o Xilofone, em pano de fundo as sombras que se projectavam num fundo branco como figuras animadas, a circundar o palco três atrizes, uma delas a interpretar uma grávida, num discurso torrencial em que se fala da Rua da Alegria, onde muitas destas companhias condenadas à morte prematura, resistem estoicamente e se revelam contra um destino cruel e desesperdao. 
Tambem muito interessante foi a analogia entre o Estado do Teatro e o Estado do país, ambos exilados no próprio país, ambos menorizados com os seus cidadãos a serem convidados, melhor, empurrados para a emigração. O aparecimento da mulher grávida, na parte final da peça, é um prenúncio de que algo tem de nascer no meio do desespero – é a lei do Teatro, da vida, do homem. 
Ligados à Corrente estão estes atores e atrizes, estas companhias que só querem mostrar a sua arte, apesar de as autoridades lhes retribuirem com uma sistemática indiferença. A electricidade do Teatro, a ligação entre os atores e o público, nunca morrerá – por favor, não desliguem a tomada !!!

R. Marques 

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