Nascia a 13 de Junho de
1888, em Lisboa, Fernando António
Nogueira Pessoa. Os pais do futuro poeta eram Joaquim de Seabra Pessoa , natural de Lisboa,
que era funcionário público do
Ministério da Justiça e crítico musical do «Diário de Notícia”, e a mãe, D. Maria Magdalena Pinheiro Nogueira
Pessoa , natural dos Açores, mais propriamente da Ilha Terceira – em casa dos
Pessoa, viviam com eles uma avó, Dionísia, doente mental, e duas criadas
velhas, Joana e Emília.
O nome Fernando António homenageava Santo
António, cujo dia se comemora também nesta data. Relembre-se que Fernando
Bulhões é o nome de baptismo de Santo António, e os Pessoa afirmavam fazer
parte da árvore genealógica do carismático Santo nascido em Lisboa e falecido
em Pádua.
A tragédia marcou a
infância e juventude de Pessoa – morreu-lhe o pai, tuberculoso aos 43 anos, e o
irmão Jorge não chegou a completar um ano. Data deste período o primeiro filho
literário, heterónimo de Fernando Pessoa, Chevalier de Pas.
O casamento da mãe com o
Comandante João Miguel Rosa, Cônsul de Portugal na África do Sul, marca um
ponto de viragem na sua vida. A família muda-se para Durban e é na cidade
sul-africana que Pessoa adquire um profundo conhecimento da poesia inglesa e
escreve poemas em inglês – sublinhe-se que além da Mensagem, os únicos poemas
publicados em vida por ele foram os poemas em língua inglesa Antinous e 35 Sonnets e English Poems I - II e
III, editados em Lisboa, em 1918 e 1921.
Na África do Sul vence o
prémio de Ensaio em Língua inglesa, o prestigiado Rainha Vitória, entre 889
candidatos e frequenta o equivalente ao primeiro ano da Universidade. Quando
volta a Portugal, ingressará no Curso de
Letras, mas desiste antes do fim do primeiro ano.
Regressado a Lisboa em
1905, indo viver com a sua Avô e duas tias, Fernando Pessoa herda por morte uma
herança que investe numa pequena tipografia “Empreza Ibis — Typographica e
Editora — Officinas a Vapor”. O negócio, porém, vai à falência e Pessoa passa a
trabalhar como correspondente estrangeiro na área comercial, aproveitando os
seus conhecimentos de inglês.
A partir de 1912, Fernando
Pessoa começa a sua incessante e brilhante actividade literária – primeiro como
crítico na Revista Águia, órgão do emergente movimento da Renascença literária
que congregava os grandes intelectuais portugueses do princípio do século XX.
Passa também a frequentar as Tertúlias literárias do Martinho da Arcada e da
Brasileira, influenciado pelo seu Tio adoptivo e também poeta, o general
aposentado Henrique Rosa.
1915 é uma data crucial na
Biografia pessoana: nesse ano sai a mítica Revista Orpheu, publicação
luso-brasileira com difusão nos dois países, cuja máxima aspiração era ir ao
encontro da vanguarda modernista que, um
pouco por todo o Ocidente, rasgava as limitadas convenções de uma sociedade
conservadora e aburguesada.
Nos Dois números de
Orpheu, Pessoa publica poemas em nome próprio e no do heterónimo Álvaro de
Campos, onde encontrará cúmplices artísticos que ficam para a vida como outro
grande vulto da poesia portuguesa, Mário de Sá Carneiro, e mestre Almada
Negreiros, pintor, poeta, homem de Teatro, figura maior do século XX português.
Em 1924, na Revista
Athena, junto com o artista plástico Ruy Vaz, Fernando Pessoa desmultiplica-se
literariamente, escrevendo poemas dos seus heterónimos Alberto Caieiro, pastor
simples que verseja sobre a claridade das estrelas e que vê, do alto dos
Montes, a imensidão do Mundo, do médico Ricardo Reis, nascido no Porto,
monárquico e conservador, amante da cultura greco-latina discípulo de Caieiro que se exila para o
Brasil, descontente com a irrupção da República – não se sabe a data da sua
morte, o que serviu de mote para José Saramago escrever O ano da morte de
Ricardo Reis – e Álvaro de Campos, engenheiro formado em Glasgow, que viajou
pelo Oriente registando no poema Opiário esse encontro entre o Ocidente e o
Oriente, e que regressa a Lisboa, retratando o seu tempo com um pessimismo
decadentista.
Junto a eles, o Heterónimo
Bernardo Soares, autor do poema em forma de testamento “ A minha Pátria é a
Língua portuguesa”, e criador dessa floresta de palavras e sentidos, de
Linguagem que se bifurca em mil direcções, desse canto ao Eu que é a imensa
Prosa poética contida no Livro do Desassossego.
A quantidade de
Heterónimos criados por Pessoa é um mistério – o escritor brasileiro João Paulo
Cavalcanti, numa Biografia relativamente recente contabiliza uma lista de 127
nomes, apesar de se destacarem quatro : Caieiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos
e Bernardo Soares, além claro do próprio Fernando Pessoa, que assina alguns
poemas em nome próprio. Mas essa capacidade Heteronímica divina do poeta – e
não será todo o artista, fatalmente, um criador de heterónimos, de outros que
expressam a sua imaginação, ultrapassando as limitações de ser apenas uma Alma,
um Corpo, uma identidade limitada – corrobora as palavras do poeta mexicano
Octávio Paz que disse, num célebre Ensaio sobre Fernando Pessoa, “ Os poetas
não tem biografia, a sua Obra é a sua Biografia”.
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R. Marques