Adriana Calcanhoto


Adriana Calcanhoto: a Senhora do Mar que invadiu o Porto com a doçura da sua voz

Ontem Iemanjá encarnou em Adriana Calcanhoto ou Adriana foi Iemanjá. A Sereia de cabelos soltos que é venerada pelos baianos, Rainha do Mar que traz o alimento e a providência divina aos pescadores, retratada com brilho fulgurante pelo grande Jorge Amado no intemporal “ Mar Morto”, irrompeu no Mar azul celeste que era o cenário da Sala Suggia, na Casa da Música do Porto, e hipnotizou os espectadores.
Com uma Voz e um Violão, despojada de qualquer acompanhamento, excepto um irónico som de um Rádio, numa canção, Adriana foi puro talento, sem um som a mais, sem se esforçar, com a leveza de quem tem, simplesmente, uma conversa em directo com o público. Conversar é, basicamente, compreender o outro, a sua intimidade, a sua cultura, e Adriana mostrou essa ligação a Portugal ao iniciar a sua actuação com uma música que partia dos versos de um dos mais famosos poemas do século XX português, o “ Eu não sou eu nem o outro” de Mário de Sá Carneiro.

O espectáculo que se seguiu, nas duas horas seguintes, foi a prova de que devemos voltar aos lugares, às músicas que nos fizeram felizes. Clássicos como “ Vambora”, “ O meu amor” ou “ Ela é carioca” ou “ Fico assim sem você” do Álbum Adriana Partimpim conviveram com a revisitação do primeiro Disco onde o Mar está omnipresente, e com novas músicas cheias de doçura, entoadas pelo canto desta Sereia da bela Música. Em todas elas, a Língua Portuguesa foi tratada com uma delicadeza que só está ao alcance das grandes poetas, das grandes autoras de canções.

Como quem embala um filho, Adriana fez de cada novo arranjo, de cada poema que surgia, dos sons mágicos que saiam da sua Voz melódica e do seu Violão melancólico,  um momento de encantamento geral. E os fiéis que estavam presentes, naquele cenário que evocava os corais de cor esmeralda dos Mares, seguiram-na até ao fim, crentes na Senhora dos Mares, rumo à Terra prometida, prestando um Culto total à Língua Portuguesa.

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R. Marques