João XXII, o sábio Papa português que Dante admirava


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Na História do Vaticano houve um Papa que conquistou a admiração do grande poeta e humanista italiano, Dante, que o integrou na sua obra-prima “ A Divina Comédia”. João XXII era uma das almas que Dante colocou entre as almas que rodeiam a Alma de São Boaventura, apelidando-o como “ aquele que brilha em doze livros”, em alusão aos 12 Tratados eruditos escritos por ele.
Nascido em Lisboa como Pedro Julião ou Pedro Hispano, entre 1205 e 1220 – é desconhecida a data exacta - filho do médico Julião Rebelo, vai seguir a profissão do pai. Primeiro estuda na Escola Episcopal da Catedral de Lisboa, posteriormente na Universidade de Paris com mestres como Alberto Magno e sendo condiscípulo de duas figuras que marcarão a História da Igreja e da Cultura europeia – São Tomás de Aquino e São Boaventura.
Entre 1246 e 1252, ensina medicina na Universidade de Siena, onde escreve vários livros entre os quais o Tratado Summulae Logicales, que servirá de Manual de referência da Lógica aristotélica nas Universidades europeias durante mais de trezentos anos, com cerca de 260 traduções em toda a Europa. Se pensarmos que a Lógica Aristotélica foi a fonte cultural incontestada em que bebeu a Cultura europeia até aos século XV, XVI, teremos uma ideia aproximada da importância desta Obra na evolução histórica do pensamento ocidental.
Também é autor de um Tratado de Oftalmologia “ De oculo” e, ironias da História, foi graças a um remédio encontrado numa receita de Pedro Julião, que o divino Miguel Ângelo, debatendo-se com problemas nos olhos enquanto pintava a Capela Sistina, se curou. Os caminhos do Vaticano e do futuro Papa estavam predestinados a cruzarem-se.
O seu prestígio na Medicina e na Teologia, área em que também escreve vários livros, contribuem para que, em 1261, seja eleito Decano da Sé de Lisboa, ingressando no sacerdócio. Exerce o Priorado do Convento de Santo André em Mafra e, mais tarde, ascende por morte do titular, Dom Martinho Geraldes, a Arcebispo de Braga, nomeado pelo Papa Gregório X.
Nessa qualidade participa no XIX Concílio Ecuménico de Lião, impressionando a Cúria romana pela sua sabedoria e levando o Papa a designá-lo Cardeal da Diocese de Frascati. Regressa temporariamente a Braga, e voltará a Itália para se tornar médico principal de Gregório X, em 1275.
A sua eleição como Papa decorrerá no Conclave de Viterbo em 1276, após a morte do Papa Adriano V, sendo coroado Papa em 20 de Setembro de 1276, adoptando o nome de João XXII. O seu breve Pontificado – oito meses – é marcado pelo desejo de esbater as tensões entre a França, a Alemanha e Castela – manda enviados diplomáticos para esse efeito – e pela pacificação do interior do Vaticano – uma das suas primeiras medidas é castigar os Cardeais que foram molestados no Conclave que o elegeu.
A doença, no entanto, obriga-o a delegar no Cardeal Orsini, futuro Papa Nicolau II, os assuntos da Santa Sé e a retirar-se para a cidade de Viterbo. É aí que morre no decurso de um desabamento do tecto nos seus aposentos – o Palácio apostólico estava em obras – a 20 de Maio de 1277.

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R. Marques