Era
suposto, numa época em que os Direitos das mulheres eram desvalorizados, e em
que as Infantas casavam em função dos interesses dos Reinos, que Catarina de
Bragança não passasse de uma nota de rodapé nos livros de História. Não foi
assim e para prova-lo basta olharmos para o modo como ela introduziu costumes
que se tornariam parte da identidade inglesa, até hoje, e foi homenageada por
Nova Iorque com o nome de uma rua, que
raramente associamos a uma Rainha
portuguesa.
Mas
vamos por partes. Catarina Henriqueta de Bragança nasceu em Vila Viçosa a 25 de
Novembro de 1638, filha de D. João IV e da Rainha D. Luísa de Gusmão, e desde
criança foi usada no complexo xadrez político das alianças entre Monarquias.
Tinha
só oito anos e já se negociava o seu
casamento com D. João da Áustria, filho
bastardo de Filipe IV de Espanha. Outros potenciais pretendentes foram o Duque
de Beaufort, neto bastardo de Henrique
IV de França ou Luís XIV, mas acabou por
casar-se com Carlos II de Inglaterra.
O
contrato nupcial previa, como dote da
Coroa portuguesa, a concessão de Tânger
e Bombaim. Os noivos casaram-se em duas cerimónias – uma anglicana e outra
católica – e D. Catarina conseguiu mesmo que o rei abjurasse da fê anglicana
numa cerimónia privada.
A
vida da Rainha na Corte não foi nada fácil: por um lado, o facto de ser
católica tornava-a impopular junto do povo inglês e fez com que nunca fosse
coroada, por outro, Carlos II era conhecido pela devassidão – teve cerca de 14
filhos ilegítimos, fruto de ligações extra-matrimoniais.
Apesar
de tudo, a Rainha portuguesa ficou para a posteridade, entre outros costumes,
pela introdução do Chá como bebida social, da geleia de laranja, além do hábito
de usar talheres e de fumar tabaco. Outra marca cultural profunda, que perdura
nos nossos dias, é o nome de um dos mais conhecidos Bairros de Nova Iorque,
Queens, baptizado em homenagem a Catarina de Bragança.
A
morte de Carlos II – depois de uma vida em comum em que não tinham tido filhos
– levou-a a regressar, viúva, a
Portugal. Morreu em Lisboa no ano de 1705, sendo sepultada no Panteão dos Braganças em S. Vicente de
Fora.
D.
Catarina de Bragança, a Rainha que venceu o destino e entrou, de pleno direito,
na grande História de Portugal.
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R.
Marques