O Teatro é a Luz e a Sombra que acompanha todo o Homem desde a Pré-História. O primitivo Homem das cavernas desenhava esboços de si e da Natureza, nas grutas e assim se reflectia, pela primeira vez, num palco improvisado, manifestando, rudimentarmente, o esboço primário dessa Arte de representação suprema que é o Teatro.
Posteriormente, já nas grandes Civilizações Clássicas como a Grega, o Teatro fazia parte integrante da Polis e do sentimento de profundo apego à cidade, aos seus valores políticos, morais e culturais, que uniam os gregos. Desde as mais simples procissões em honra do Deus Dionisos – chamadas Ditirambos – à prodigiosa e complexa produção teatral de pioneiros da criação como Ésquilo, Sófocles, Eurípedes ou Aristófanes, foi uma Escola de virtudes que glorificou os feitos gregos e atenuou as rivalidades entre as Nações Estado, que coabitavam em Terras Helénicas.
No Fim da Idade Média e início do Renascimento, em Portugal, um nome elevou-se acima de todos os outros. Gil Vicente, considerado por muitos não só o pai do Teatro português, mas também Ibérico – já que também escrevia peças em castelhano. Nascido em 1644, a primeira obra de Gil Vicente, “ Auto da Visitação” foi representada na Corte perante o Rei D. Manuel I e D. Maria, na noite de 8 de Junho de 1502, para festejar o nascimento do filho, o futuro D. João III, e os seus Autos, entre os quais, o “ Auto da Barca do Inferno” ou “ Auto da Barca do Purgatório”, nunca deixam de criticar a ordem social e religiosa dominante.
Outro nome fulcral na introdução da Cultura Renascentista em Portugal e na renovação do Teatro português, foi António Ferreira. Vivendo entre 1528 e 1569, notabilizou-se por escrever a primeira Tragédia do classicismo português, “ A Castro”, baseada nos amores fatais que uniram D. Pedro e D. Inês.
Já nos séculos XVIII e XIX, ocorre uma enorme Revolução quer na Linguagem, quer nas próprias Instituições do Teatro português. No epicentro da mudança está João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett.
Simultaneamente, criador e autor de peças emblemáticas como “ Frei Luís de Sousa” ou “ Falar a Verdade a mentir” ou como ideólogo de novas Entidades como o Teatro Nacional de D. Maria ou o Conservatório de Arte Dramática.
No século XX português, atravessado por essa espinha cravada na Cultura e Criatividade nacionais chamada Salazarismo, o Teatro não deixou crescer e ganhar novas formas. Salientam-se, entre outros, autores como Raul Brandão, José Régio, José Cardoso Pires, Luís de Stau Monteiro ou Bernardo Santareno, actoresinesquecíveis como Ribeirinho, Vasco Morgado, António Silva, Amélia Rei Colaço, Eunice Munhoz, Ruy de Carvalho, Luís Miguel Cintra ou Encenadores como o imortal António Pedro, imortalizado por Edgar Pêra no documentário “ O Homem Teatro” , Jorge Silva Duarte e Diogo Infante e tantos outros – aqui deixo a minha homenagem a todos os que trabalham no Teatro, sejam profissionais ou amadores.
Do outro lado do Atlântico, no Brasil, o Teatro propagou-se como veículo de comunicação e evangelização dos Jesuítas. Foi um modo de dialogar com os Índios e divulgar o Cristianismo – são deste período, no século XVI, as obras do Padre Manuel Nóbrega “ Diálogo, conversão do gentio”, de 1557, o “ Auto da Pregação Universal “, em 1567 e “O auto de São Lourenço”, em 1586, ambas escritas pelo Padre José de Anchieta.
No século XIX, com a transferência da Corte para o Brasil, o Teatro ganhou nova vida. Nome incontornável é o do actor João Caetano, impulsionador da formação dos actores brasileiros e figura ligada a duas peças emblemáticas do Teatro brasileiro como “ António José” ou o “ O poeta e a Inquisição”.
A brilhante geração romântica de fins do século XIX e princípios do século XX, com ícones como Machado de Assis, José de Alencar ou Castro Alves, também contribuiu com várias obras para este género tão nobre e especial. Com uma escrita que abandonava o romantismo mais ultra-montano e acolhia o realismo e a crítica social como pilares.
Finalmente, o século XX, acentua essa tendência. Com Mestres do Realismo crítico como o inevitável Nelson Rodrigues, Aruna Suassena ou Arnaldo Jabor e, claro, magníficos actores como Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Marília Pera ou António Fagundes.
Em síntese, o Teatro, em Portugal, no Brasil, no Mundo, está de parabéns. A Arte da Vida, do Homem que se olha a si próprio, que se espelha na Linguagem e no Espaço ao longo dos Tempos, está para durar, apesar de todas as crises e de todos os certificados de Óbito, claramente exagerados, sobre a sua morte eminente: o Teatro é eterno como o Homem que se interroga, todos os dias, pelo seu destino neste Planeta.
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R. Marques