4 de Fevereiro: aniversário do Divino Almeida Garrett


                             

A estátua postada à entrada da Câmara Municipal do Porto não deixa dúvidas: João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett é a maior  referência entre os escritores nascidos na cidade do Porto. Homenagem mais do que merecida para quem, talvez como nenhum outro escritor, verteu a pena do talento em tantos géneros com a sua linguagem plástica, subtil, bela, de um português que ainda hoje é estudado e reverenciado.
Nascido em 4 de Fevereiro  1799, no Porto, baptizado com o nome de João Baptista da Silva foi viver na adolescência para os Açores, em fuga das invasões napoleónicas,  onde recebeu uma educação religiosa do seu tio D. Alexandre, Bispo de Angra. Posteriormente, vai estudar Direito em Coimbra e é na Lusa Atenas que encena e interpreta a sua primeira peça de Teatro “ Catão”.
Em 1821,  choca a sociedade portuguesa ao publicar o poema libertino  “ O retrato de Vénus”, que lhe vale acusações violentas  que o apontam como ateu, materialista e imoral e um processo judicial. É nessa data, curiosamente, que a sua família passa a usar o apelido Almeida Garrett.
Liberal assumido, participa no Golpe da Vilafrancada, que o leva ao exílio em 1823 para Inglaterra. Amante impetuoso e precoce – um pouco como Camilo Castelo Branco, outro grande escritor português do século XIX- casa-se com a adolescente Luísa Midosi, então com 14 anos.
Mais tarde, parte para França onde escreve os poemas “ Dona Branca” e “ Camões”  de pendor romântico e patriótico. Garrett como o  grande historiador e escritor Alexandre Herculano nunca dissociou o intelectual do homem de acção: não é por acaso que ambos fizeram parte do chamado Batalhão dos académicos que desembarcou  no Mindelo, em 1832, integrado nas forças de D. Pedro IV, compostas por cerca de 8.000 homens, que combatiam os miguelistas na Guerra Civil Portuguesa.
Almeida Garrett foi um renovador em múltiplas áreas: no romance com obras como “ O arco de Santa Ana” ou o incomparável “ Viagens na minha Terra”, que anteciparam a Literatura realista e crítica que seria apanágio de Eça de Queiroz ou Camilo Castelo Branco, no Teatro com peças nucleares da dramaturgia portuguesa como “ Falar a verdade e mentir” ou a obra-prima “ Frei Luís de Sousa”, como poeta inovador em livros como “ Folhas caídas”, “ Dona Branca ou Camões”, como tribuno e parlamentar brilhante – até hoje ele é a grande referência, junto com José Estevão da oratória parlamentar – e como um político perspicaz nos Governos de Passos Manuel que foi o responsável pela criação do Teatro Nacional ou do Conservatório de Arte dramática.
 Em tudo, em todo o lado, esteve  o Divino Almeida Garrett,  que morreu em 1854. Um homem que nasceu para criar como um Deus.

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R. Marques