Glauber Rocha: o Génio da Bahia que iluminava o povo


           
                        
A Bahia é uma terra de revolucionários. Revolucionários na música – Caetano ou Maria Bethânia – revolucionários na Literatura – Jorge Amado – e  revolucionários no cinema – e, nesse caso, o nome de Glauber Rocha é obrigatório.
Glauber da Rocha nasceu em 1939 em Vitória da Conquista, numa família com fortes convicções religiosas e ligações à Igreja Presbiteriana. Com a mudança dos pais para Salvador da Bahia, o jovem Glauber começa a interessar-se pelas artes performativas e pelo cinema,  enquanto frequenta o Colégio 2 de Junho.   
Ingressa, mais tarde, na Faculdade de Direito da Bahia, período no qual realiza filmagens para o seu primeiro filme – a curta metragem  “  Pátio” – em 1959. Abandona, porém, o Curso e dedica-se ao Jornalismo e à realização  dos seus primeiros filmes.
É na década de 60,  que a estética muito própria de Glauber se materializa em filmes como “ Barlavento”,” O Deus e o Diabo na Terra do Sol”,  “Terra em Transe” ou o “ O  Dragão da maldade contra o Santo guerreiro” entre outras longa-metragens  e documentários. Estes três últimos, sublinhe-se, foram premiados em três anos sucessivos em Cannes, o que mostra bem o reconhecimento internacional que teve o cinema de Glauber.
Os traços essenciais dos seus filmes passam pela denúncia das injustiças sociais e políticas, pela valorização do povo como entidade viva, concreta, real, e pelo poder da metáfora, da imagem para simbolizar aquilo que escapa ao nosso entendimento mundano. Glauber Rocha é o pai do cinema novo, de um cinema que se impregna da realidade e que toma partido – não é, por acaso, que o cineasta baiano viverá muitos anos no exílio, hostilizado pela Ditadura militar.
À imagem de Jorge Amado, na Literatura, o cinema de Glauber resgata a dignidade do povo dos lugares comuns. O seu génio está na iluminação desse povo que vive na penumbra da História, mas que ele procura reabilitar e colocar no centro dos acontecimentos, fazendo dessa tarefa uma obrigação ética e estética.
Com a sua morte, aos 42 anos, em 1981, Glauber transformou-se num ícone cultural. Para além das modas, ele é um dos rostos da criatividade brasileira e a maior referência do cinema brasileiro.
Ninguém filmou o Brasil e a Bahia como ele o fez. Com amor e espírito crítico, iluminando a nossa visão para sempre.

  www.sotaques.pt – Luzes, Câmara, Sotaques !!!

R. Marques