José Saramago: o homem que venceu todas as
convenções
Nada
era suposto acontecer assim na vida de José Saramago: nascido numa humilde família
de camponeses a 16 de Novembro de 1922, na Azinheira, no Alentejo profundo, sem
uma educação académica convencional, dedicou-se durante anos a várias
atividades como serralheiro, desenhador, funcionário, tradutor, editor
jornalista. Em 1947, publica-se o seu primeiro romance “ Terra de pecado”, sem
grande sucesso, sublinhe-se, e só volta a escrever um livro de poemas em 1966 “
Os poemas possíveis”, conseguindo um maior reconhecimento com os romances “ Levantado do Chão”, em 1977, e “ Manual de Caligrafia” em 1980.
Os anos 80, assinalam a sua ascensão fulgurante como
príncipe das letras nacionais com títulos tão excecionais como “ Memorial do
Convento”, “ O ano da Morte de Ricardo Reis”, “ A Jangada de Pedra” ou “ A
História do cerco de Lisboa”. Obras que mostram um autor que cultiva as raízes
da cultura e da História de Portugal, com justiça, sem nunca cair no elogio
fácil, mantendo um juízo crítico a toda a prova.
A década de 90
caracteriza-se por livros mais simbólicos, cheios de parábolas sobre o homem e
a sua ação na Terra. O assombroso “ Ensaio sobre a Cegueira”, que é uma descida
aos abismos da alma humana, após um cataclismo que deixou cegos quase todos os
homens, “ A Caverna”, “ A Viagem do Elefante” ou o
derradeiro “ Caim”, são viagens metafísicas em que a humanidade se contempla e
reflete sobre o seu destino.
Vencedor do Prémio Camões
em 1995 e do Prémio Nobel em 1998, ficaram célebres as suas
palavras na cerimónia de entrega do máximo galardão
literário mundial. Disse o eternamente insubmisso José Saramago, em Estocolmo,
que o homem tem mais facilidade em chegar à Lua ou explorar o espaço do que em
ajudar o seu semelhante.
Contra todas as convenções
– sociais, políticas, culturais- contra todos os poderes, José Saramago é um exemplo cívico para todas as Gerações. É um
exemplo cívico cuja memória se perpetuará, apesar da morte em 2010, ao lado de outros grandes vultos literários e
de cidadania ativa como Camões, Fernando
Pessoa ou Sophia de Mello Breyner.
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R. Marques