Jorge Amado: o Baiano que fez do povo a grande
personagem do Romance brasileiro
Há uma canção, popularizada na Baía de todos os Santos,
cujo estribilho começa assim “ o que é que a Baiana tem ….” . A Baiá, capital
histórica do Brasil, provavelmente a cidade onde as marcas da arquitectura
portuguesa mais se fazem sentir, foi também o centro nevrálgico de uma
Revolução cultural.
No epicentro dela, estiveram a música e a literatura.
Na música vêm-nos imediatamente à memória o mestre Dorival Caymmi e a saá ga
dos baianos ilustres que lhe sucedeu- Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto
Gil – enquanto na literatura há um nome acima dos restantes: Jorge Amado.
Jorge Leal Amado de Faria nasceu em Itabuna, Salvador
em 1912, oriundo de uma família de fazendeiros. Forma-se na Faculdade de
Direito do Rio de Janeiro, mas é como escritor, jornalista e militante do
partido comunista – chega a ser deputado federal em 1945 – que começa a ser
conhecido.
A sua carreira literária é precoce: em 1930 publica o
seu primeiro livro “ O país do Carnaval”, sucedendo-lhe, na década de 30, obras
de referência como “ Cacau”, “ Mar morto” ou
“ Capitães de Areia”. Em todos os seus livros, o povo é a grande
personagem com as suas dificuldades de sobrevivência a serem descritas com
grande espírito poético, sem cair em lamentações ou fatalismos.
Também é obrigatório falarmos das adaptações dos seus
romances à televisão: telenovelas como “ Gabriela Cravo e Canela”, “ Tieta do
Agreste” ou “ Dona Flor e os seus dois maridos” conquistaram o público
brasileiro e português pela sensualidade única da Baía, que impregna os
costumes das pessoas.
Convêm referir ainda que Jorge Amado tinha uma relação
fraternal com Portugal: Manuel Natário era um amigo próximo de Jorge Amado que
vivia em Viana do Castelo, visitando
sempre que vinha a Portugal, a pastelaria Natário onde admirava
o famoso Pão-de-Ló, que chegava a encomendar por correio. Jorge Amado
fez de Manuel Natário uma personagem de um dos seus romances, o capitão Natário
de “ Tocaia grande”, que descreveu como “ capitão de doces e salgados,
comandante de pão de ló, mestre de bem comer”.
Este ano Jorge Amado vai ser homenageado nas Festas da
Nossa Senhora da Agonia, em Agosto, com a atribuição do nome de uma ala da
Biblioteca Municipal, desenhada por Siza Vieira, e de uma rua de Viana. Estará
presente o embaixador do Brasil em Portugal, Manuel Vilalva, como convidado de honra das festas da Senhora
da Agonia, em Viana do Castelo, que
decorrerão entre 17 e 20 de Agosto.
R. Marques
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