25 de Abril: o primeiro Dia do resto das nossas vidas

Quarenta e uma anos de Ditadura, de vidas destruídas, de liberdades censuradas, de um país amordaçado e à margem da realidade, acabaram a 25 de Abril de 1974. Da forma mais poética que pode assumir uma Revolução - com o povo na rua e os militares a colocarem cravos nas espingardas, com a imensa massa, do popular ao intelectual, a participar numa festa que  mudou  decisivamente a nossa História.
Antes deste dia que marcou e marca as nossas vidas, o país vegetava num Estado Novo que apodrecia de velho. Depois da primeira República que vigorou até 1926, houve um breve período de Ditadura militar - entre 1926 e 1933- liderado pelo Presidente Óscar Carmona que trouxe para o Governo um professor de Finanças públicas da Faculdade de Direito de Coimbra, António de Oliveira Salazar. 
A partir de 1933, Salazar assume-se como o líder de um novo regime - o Estado Novo - que terá uma longevidade de 41 anos, só sendo derrubado a 25 de Abril de 1974,  através de um golpe militar. Entre as características do Salazarismo destacam-se o anti-parlamentarismo, o colonialismo, a falta de liberdades, a censura, o clericalismo exacerbado, o condicionamento industrial das Empresas,  e o culto da personalidade - no caso de Salazar, elevado à categoria de ídolo do regime, basta ler os livros de António Ferro para vislumbrarmos  a imagem de um homem casto e honesto, que vivia para e pelo Estado, numa  reclusão da realidade. 
Na realidade, os mitos do Estado Novo e de Salazar  não sobrevivem a uma análise profunda. O condicionamento industrial e o colonialismo destruíram o tecido empresarial português, a falta de liberdade e de democracia atrasaram o país e não lhe permitiram fazer parte da então Comunidade Europeia antes dos anos 80, e sobretudo Gerações de portugueses viram-se obrigados a emigrar, foram presos, torturados, objectos de permanente vigilância e censura . 
A 25 de Abril de 1974, já com a chefia do Governo de Marcelo Caetano, após a morte de Salazar, foi  uma invulgar Revolução espantou o país e o mundo. Comandada pelo movimento das Forças armadas, que fora secretamente criado por militares descontentes com a situação, planificou o derrube da Ditadura - a 24 de Abril de 1974, um grupo de militares chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho toma o quartel da Pontinha em Lisboa, às 22h55 é transmitida a primeira senha da revolta, a canção " E depois do Adeus do Deus", de Paulo de Carvalho, nos Emissores Associados de Lisboa, à meia noite e vinte soa a canção " Grândola Vila Morena", de Zeca Afonso, no programa " Limite" da Rádio Renascença, que confirmava a irreversibilidade do movimento revolucionário. 
Numa acção estratégica concertada, mobilizam-se as forças a Norte - uma força  liderada  pelo tenente coronel Carlos de Azeredo toma o Governo Militar do Porto, outra proveniente de Viana apodera-se do aeroporto Sá Carneiro, e de Santarém  para tomar o Terreiro do Paço outro comando chefiado por aquele que seria o rosto icónico de Abril, o capitão Salgueiro Maia . 
Esperava-se resistência do Estado Novo, mas se exceptuarmos a tomada do quartel do Carmos e a captura de Marcelo Caetano, assistimos a uma Revolução  limpa, sem sangue, pacífica. Com um simbolismo fortíssimo - a dos soldados com os canos das espingardas cheias de cravos - que teriam sido oferecidos por uma vendedora aos populares que aos deram aos militares. 
A música é uma filha predilecta de Abril. Para além de " E depois do Adeus" e de "Grândola Vila Morena", o período pós- revolucionário é rico em grandes cantores - Zeca, Fausto, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira ou Sérgio Godinho - e músicas que marcaram uma Geração que vislumbrava, finalmente, a Liberdade. 
Deste último, destaco uma banda sonora que podia bem ser a canção da Revolução " Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida". O 25 de Abril foi, realmente, o primeiro dia do resto das nossas vidas. 


Autor: Rui Marques