Zeca Afonso - O Filho da Madrugada que acordou Portugal


O Filho da Madrugada que acordou Portugal 

Há um antes e um depois de Zeca Afonso na música, na cultura, nas artes em Portugal. Antes tínhamos uma música que, salvo raras exceções, tocava sob a pauta do regime canções assépticas, sem cor, que realçavam letras sem chama, depois de Zeca nada foi igual, as letras, a poesia, a música ganhou força, vitalidade, personalidade como se os seus poemas acordassem da letargia um país submerso na triste noite do Salazarismo. 

José Afonso nasceu na Freguesia da Vitória, em Aveiro,  em 1929 . Depois de ter vivido com a família em Moçambique, voltou a Portugal e estudou em Coimbra primeiro no Liceu D. João III e mais tarde na Faculdade de Letras, cidade onde começa  a notabilizar-se como intérprete do Fado de Coimbra. 

O seu primeiro Disco chama-se, precisamente Fados de Coimbra, e é também nesse período que dá os primeiros passos como Professor. Em 1963 lança o Disco Baladas de Coimbra, com as emblemáticas canções " Os Vampiros" e " O menino do Bairro do Bairro Negro" que criticam abertamente a Ditadura e que levam a PIDE a censurar o Disco. 

A sua Discografia é muito intensa e um permanente desafio ao Estado Novo: é autor da mítica Grândola Vila Morena, uma das canções mais queridas dos movimentos democráticos e do pós-25 de Abril, e de outros êxitos como " Cantigas de Maio",  " Traz outro amigo também" ou " Venham mais cinco", que significar  uma Revolução cultural antes da Revolução política, libertando pela força da palavra musicada um povo que estava prisioneiro da Ditadura.

Zeca Afonso viu o 25 de Abril chegar,  morrendo em 1987 de uma doença do foro neurológico que lhe tinha sido diagnosticada há décadas. Em 1994 toda uma Geração de cantores que se inspiraram em Zeca bem como Bandas portuguesas  - José Mário Branco, Sérgio Godinho, Fausto, Vitorino e tantos outros- homenagearam-no no espetáculo "Filhos da Madrugada".

Sabiam que estavam a prestar tributo ao homem que quebrou a mordaça da Censura pela força revolucionária da música. 25 anos depois da sua morte, a 23 de Fevereiro de 1987, Portugal presta-lhe o respeito como o  trovador derrotou as herméticas fortificações  da  Ditadura através da grandeza da música e da arte. 



Autor: Rui Marques