Padre António Vieira : Imperador da Língua Portuguesa


Poucos homens ao longo da História terão vivido de um modo mais intenso a relação entre Portugal e o Brasil como o padre António Vieira. Basta dizer que nasceu em Lisboa, a 7 de Fevereiro de 1608, e morreu a 18 de Julho de 1697, na Baía.
Mas não é suficiente para compreendermos a sua dimensão: entre estas duas datas, há toda uma vida cheia de um escritor, orador, religioso, defensor dos direitos dos índios - que o chamavam Paiaçu, grande pai em língua Tupi- que o elevou ao restrito  panteão dos grandes vultos históricos da Língua Portuguesa ao lado de Camões, Gil Vicente, Pessoa, Machado de Assis, Veríssimo Serrão, Drumond de Andrade  ou Clarice Lispector. E, sobretudo, o tornou numa   grande figura da cultura que é respeitada e querida dos dois lados do Atlântico. 
Nascido em Lisboa em 6 de Fevereiro de  1608, filho de Cristovão Vieira Ravasco, na altura escrivão da Inquisição, mudou-se para o Brasil com a família,  acompanhando o pai que fora trabalhar como Escrivão para  São Salvador da Baía. Iniciou os seus estudos em 1614 no Colégio de Jesuítas da Baía, ingressando como noviço em Maio de 1623. 
Prosseguindo os seus estudos,  torna-se mestre em artes e professor de retórica . A sua precocidade,  desenvoltura e talento  para utilizar a  Língua portuguesa começaram a notar-se: redige aos 18 anos, por encargo,  o relatório anual dos Jesuítas,  e   prega o seu primeiro sermão público na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia,  em 1633.
É absolutamente impressionante o seu acervo literário. Na sua obra contabilizam-se mais de duzentos Sermões, 700 cartas,  e  um número notável de tratados proféticos e textos da mais variada índole. 
Para além disso Vieira foi diplomata, representando D. João VI em missões diplomáticas nos Países baixos e na França e um protector incansável  dos direitos dos índios e dos Judeus, numa altura em que a Europa estava assolada pelo anti-semitismo. A Inquisição perseguiu-o pelos seus textos proféticos, obrigando-o a regressar a Portugal,  mas depois de um período em que esteve preso em Coimbra,  viaja  a Roma para conseguir o perdão papal, passando  seis anos na capital italiana, e  pregando sermões em italiano aos Cardeais da Cúria Romana e à exilada rainha Cristina da Suécia - obteve finalmente  o ansiado perdão do papa Clemente X . 
Regressou a  São Salvador em 1686, continuando a sua atividade e sendo nomeado, em 1688,  Visitador-geral da Província do Brasil. Morre em 18 de Julho de 1697,  na sua amada São Salvador da Baía.
Resumir em palavras a vida e obra do padre  António Vieira é sempre ingrato . Mas talvez ninguém  o tenha expressado melhor  que Fernando Pessoa,  quando  lhe chamou Imperador da Língua Portuguesa. 
Hoje comemora-se o aniversário do nascimento de um homem  e  também uma efeméride importante para  uma Língua,  através da celebração de um dos seus mais excepcionais criadores. A Língua Portuguesa também está de parabéns neste 6 de Fevereiro de 2011 . 

Autor: Rui Marques