Arquitectura com Sotaque


Anabela Medeiros Correia é um exemplo do espírito aventureiro e da capacidade que os açorianos têm para se adaptarem aos lugares que os acolhem. Esta Arquitecta de 28 anos, natural da Ilha de São Miguel,  veio estudar para a Faculdade de Arquitectura do Porto em 2001, foi estudante  Erasmus um ano em Pescara, na Itália,  e efectuou um estágio de seis meses em Locarno, na Suiça.

Regressou ao Porto em 2010, onde colabora actualmente com o Gabinete de Arquitectura Carrilho Vicente. Mas a vontade de viajar e conhecer outras culturas corre-lhe no sangue como orgulhosa açoriana que é: gostava de ir viver e trabalhar no Japão, embora não descarte a hipótese de voltar aos Açores.







P- Como foi a sua adaptação à cidade do Porto?

R- Inicialmente foi complicada, mas depois adaptei-me e passei a gostar muito da cidade e das pessoas.

De tal forma que hoje em dia sinto que não me vejo a viver noutra cidade do Continente. Acho que o Porto é uma cidade calorosa com uma grande oferta cultural.

Quando vim para cá escolhi o Curso mais pela cidade do que pela Faculdade. 

P- A Arquitectura foi uma escolha influenciada por alguma ligação familiar?

Não: curiosamente não tenho ninguém da família que seja  Arquitecto. Mas sempre gostei de observar as casas e de ter um sentido crítico.

Nas casas micaelenses é habitual existirem as chamadas cozinhas de trás, e eu sempre tentei ver como se construía, se os materiais eram os adequados, compreender os pormenores.

P-O facto de ser de uma Ilha condiciona o seu gosto como  Arquitecta?

Julgo que sim. No sentido em que procuramos tocar o menos possível na paisagem, com o mínimo ruído visual. 

Sempre admirei o movimento organicista que respeitava o equilíbrio entre a Arquitectura e a natureza. Um exemplo é a   célebre  casa da Cascata do Arquitecto norte-americano Frank Lloyd Wright.

P- Se pudesse intervir como Arquitecta numa obra nos Açores qual seria a sua escolha?

Talvez um Hotel em ruínas  que fica situado perto da Lagoa das sete cidades. Fazia parte de um grupo Hoteleiro francês e fica situado num local magnífico, com uma vista deslumbrante.

P- Que Arquitectos admira?

A nível nacional gosto muito de Eduardo Souto Moura. No plano internacional aprecio, por exemplo, Oscar Niemeyer.

P- O Sotaques é um Projeto cultural que este mês destaca a relação entre os Açores e Santa Catarina. Que importância pensa que tem essa relação?

Muita. Eu tenho um Bisavô que emigrou para o Brasil e acho que é fundamental desenvolvermos essas ligações.

Até porque os açorianos estão em todo o mundo- há açorianos no Brasil, no Canadá, nos Estados-Unido, em todo o lado. 

 P- Estávamos a falar no Sotaque açoriano e a Anabela disse-me que os Sotaques variam consoante as Ilhas? Pode explicar melhor essa ideia?

Eu tenho um Sotaque mais forte. O Sotaque micaelense é mais pronunciado, enquanto noutras Ilhas como Santa Maria  se fala de um modo mais parecido com o Continente. 

P-Que Projetos tem para o futuro? 

Eu gostava de ir viver um ano para o Japão. Com o acidente nuclear de Fukushima  acabei por adiar essa vontade devido a um certo receio.

Colaboro com  um Gabinete de Arquitectura do Porto- Carrilho  Vicente- e sinto-me bem no Porto, mas não ponho de parte a hipótese de voltar aos Açores. Saí de lá aos 18 anos e também sinto saudades dos Açores.