Grito do Ipiranga no Porto

Para comemorar o aniversário da independência do Brasil, no dia 7 de Setembro, convidamos os brasileiros e portugueses a darem o seu Grito do Ipiranga a partir das 16hoo, em frente a estátua de D. Pedro no Porto.

Dê o seu Grito em defesa do nosso património cultural comum, conte-nos a sua história, fale da ligação luso-brasileira.

Nós gravaremos em vídeo o seu Grito, tiraremos fotos e divulgaremos as imagens nas redes sociais.

Pode também dar um grito a partir de outros locais de Portugal ou do Brasil. Envie-nos um vídeo a assinalar esse momento.

Envie um email para antonio.sotaqus@gmail.com

Participe neste evento e grite com força pela cultura luso-brasileira, no dia em que se celebra o grito de Ipiranga dado pelo rei D.Pedro.

www.facebook.com/sotaques - Parcerias luso-brasileiras 

Passatempo Sotaques/Alcione

Temos bilhetes para o Concerto da mítica cantora brasileira, na Casa da Música do Porto às 21H30 no dia 20 de Setembro . Responde a esta questão e habilita-te a ver ao vivo esta grande senhora da música .

Como se chama o nome do mais recente CD de Alcione ?

A - Estação das Chuvas
B- Apaixonada
C - Eterna alegria

Envia-nos a tua resposta,  junto com o teu número de contacto para o email rui.sotaques@gmail.com ou para o nosso facebook www.facebook.com/sotaques e poderás ouvir a voz apaixonante de Alcione.

www.sotaques.pt - Entre na rede que está a estimular as relações luso-brasileiras
 

Tecno- Orixás ou a arte moderna de Valer Nu

Entre o artista plástico brasileiro, Valter Nu, e os modernistas que mudaram a face artística do Brasil, no século XX, há muito mais ligações que a nacionalidade. Há uma comunhão de espírito experimental que se prolonga pelas décadas, e que caracteriza a classe artística brasileira.

Multifacetado é uma palavra que se ajusta na perfeição à figura do artista plástico Valter Nu. Nascido em Santos, estudou artes visuais na Fundação das Artes em São Caetano do Sul, com formação na área do audiovisual e pós-graduação em semiótica.

O seu percurso está ligado à Prefeitura de São Paulo, onde é artista orientador de artes visuais e artes integradas do programa vocacional da Secretaria Municipal da cultura. Também é Dj, produtor musical e , a nível das suas exposições, caracteriza-se por trabalhar com esculturas feitas com reaproveitamentos de materiais descartados desde 1993.

Essa preocupação ecológica complementa-se com a junção entre o passado e o futuro, entre a tecnologia e as figuras da cultura negra, dos orixás. O tecno-orixás é um projecto inovador que nos mostra esculturas tridimensionais inspiradas em divindades africanas do Candomblé.

São imagens produzidas com restos de materiais tecnológicos descartados, encontrados nas caçambas de entulho da cidade de São Paulo, entre 2010 e 2014. Neste trabalho multicultural resgatam-se as tradições de oralidade da cultura afro-brasileira, que foram divulgadas através das canções populares das canções da música popular brasileira.

A música é omnipresente nestas instalações: existe mesmo um grupo “ Curimba eléctrica”, criado para a festa de inauguração do evento, que apresenta uma performance musical, com Djs e cantores que fazem leituras animadas da exposição.
Na raiz da filosofia que está subjacente aos Tecno-orixás está o sincretismo cultural e religioso. Reunir figuras como Iansã/Santa Bárbara, Ogum/São Jorge, em formas esculturais que estimulam o diálogo entre as diferentes culturas, ou mostrar a riqueza da oralidade cultural afro-brasileira. Também é um projecto que visa alertar para a necessidade de revalorizar a importância da cultura africana nas escolas, nas comunidades, na sociedade.

Valter Nu, com a obra escultural Tecno-orixás, segue a mais rica via da arte brasileira dos séculos XX e XXI. Aquela que vem directamente da influência dos primeiros modernistas brasileiros, que não tinham medo de experimentar, e de pesquisar as origens da cultura brasileira e a sua ligação às diferentes tradições africanas ou índias.

A melhor forma de conservar a tradição é  fazê-la dialogar com o presente – só assim se constrói o futuro. Na arte e na vida, como o prova o fascinante projecto dos Tecno-orixás de Valter Nu.
Paulo César
 
Entre na rede que está a estimular as relações luso-brasileiras –www.facebook.com/sotaques - www.sotaques.pt





A Arte Burguesa



Esta edição da revista Sotaques entrevista um artista português e uma artista brasileira – o portuense Paulo Gaspar Ferreira e a paulista Luciana Bignardi – que se reúnem numa parceria luso-brasileira para desvendar um dos tesouros da arte burguesa – as clarabóias da cidade do Porto.

Aconselhava    o notável  escritor francês Gustave Flaubert,  no século XIX, os membros ou aspirantes a  esta classe social “ vive como um burguês para que possas reservar toda a radicalidade para a tua arte”. A arte burguesa é certamente o mais refinado produto cultural que a burguesia criou – e as ramificações dessa arte atravessaram os mares, tornando-se num dos grandes movimentos globais nos séculos XVIII, XIX e inícios do século XX.

Portugal e o Brasil  foram dois intensos focos dessa vontade de deixar um legado arquitectónico e cultural, baseado numa certa ideia de beleza e de lazer. Curiosamente, a cidade do Porto e a cidade de São Paulo, locais de nascimento desta dupla que se juntou para fotografar as clarabóias na Invicta, são duas urbes que revelam os sinais dessa presença artística poderosa,  em muitos dos seus mais emblemáticos edifícios públicos e privados.

Do Porto temos óbvias referências: do Palácio da Bolsa ao Palácio de Cristal, da Casa da Feitoria Inglesa, do Edifício da Alfândega Nova ao Hospital de Santo António, passando pelo Palácio do Freixo ou pela Torre dos Clérigos. Provavelmente os dois edifícios mais característicos deste entendimento da arte sejam o Palácio da Bolsa e o antigo Palácio de Cristal – o Palácio da Bolsa, por motivos óbvios, porque foi mandado construir pelos burgueses, em 1842, para ser o local onde pudessem discutir os seus negócios; o Palácio de Cristal, inaugurado em 1861 com uma estrutura de ferro, granito e vidro,   foi projectado pelo arquitecto inglês Thomas Dillen Jones, tendo como modelo o Crystal Palace de Londres.

Em São Paulo também descobrimos tesouros arquitectónicos inspirados nesta corrente: por exemplo, o Teatro Municipal de São Paulo, inaugurado em 1911, tem uma influência clara de edifícios como a Ópera de Paris; a Estação da Luz, construída em 1867 e que alberga actualmente o Museu da língua portuguesa, é outro espaço que tem as marcas da arte burguesa; o Museu do Ipiranga ou a Pinacoteca de São Paulo também revelam os traços característicos desta arte cuja influência atravessou séculos.
Isto para não falarmos dos Palacetes e casas antigas privadas,   que proliferam em Portugal e no Brasil, em cidades com o  Porto ou  São Paulo, com as suas belíssimas clarabóias. No passado, no presente e no futuro, a arte burguesa continua a unir o Brasil e Portugal.


Rui Marques
www.facebook.com/sotaques – Entre na rede que está a estimular as relações luso-brasileiras



Túnel de Vizela: uma obra à frente do seu tempo


Chamam-lhe Túnel da cor e foi considerado, em 2006, o maior Túnel de azulejos pintado por crianças do mundo. Com uma dimensão de cerca de 2000 metros, é uma obra que já foi premiada pelo seu arrojo e de vanguarda.

Alua Pólen, a dupla de artistas composta pelo casal de artistas Manuel António e Paula Dacosta, está intimamente associada ao apelidado Túnel da cor ou Túnel da Confraria de São Bento das Peras de Vizela. Foram eles, durante a estadia de 12 anos em Vizela, que deram a formação a mais de 3000 crianças  das Escolas para criar um gigantesco Túnel pintado com 17 mil azulejos, que se revela uma obra à frente .

Em 2011, a Confraria de São Bento das Peras foi distinguida na cerimónia “ Prémios Azulejos 2010”com o prémio “ Acção Comunitária” no Palácio Fronteira-Lisboa.

António Santos

Entre na rede que está a estimular as relações luso-brasileiras  www.facebook.com/sotaques - www.sotaques.pt




Uma obra de arte no interior do Palácio da Bolsa


Visitar o Palácio da Bolsa já é, por si, uma viagem ao interior de uma obra-prima. Agora é impossível ficarmos indiferentes à belíssima e gigante Clarabóia que é uma das imagens de marca deste monumento.

O Palácio da Bolsa nasceu de uma iniciativa dos mercadores do Porto, que tinham perdido a Casa de Bolsa do Comércio, e se viam obrigados a discutir os seus negócios ao ar livre, na rua dos ingleses. Para colmatar essa falta de um espaço digno, iniciou-se a construção,   a 6 de Outubro de 1842,  de um edifício que juntava a funcionalidade e  a beleza, com uma variedade de estilos invulgar.

A planta do Palácio é a fachada principal encontra-se dividida em três corpos de ordem dórica: o corpo principal é guarnecido por uma escadaria paralela ao edifício que termina numa larga torre quadrangular ornamentada com elementos jónicos e coríntios. A nível de estilos descobrimos uma mistura da arquitectura toscana e do neoclássico oitocentista, passando pelos primórdios policromáticos no Salão árabe ou por influências do gosto neopalaciano inglês.

O vestíbulo da fachada principal dá acesso ao Pátio das Nações, onde encontramos uma das mais extraordinárias, senão mesmo  a mais excecional clarabóia da cidade do Porto, sustentada por uma admirável estrutura arquitectónica. Este é  um local muito especial no contexto do Palácio:  ostenta uma imponente cúpula metálica envidraçada, de  onde jorra uma imensa luz, que transmite uma sensação de beleza  e uma nítida impressão de verticalidade, acentuada pelas colunas pompeanas em ferro forjado e pelo porte elevado das portadas e janelas.

Está  decorado com o escudo nacional e as armas de vinte países com os quais Portugal mantinha as mais estreitas relações de amizade e de comércio. Países com o  Brasil, a a Itália, o  Saxe, a  Pérsia, a Argentina, a Rússia, a Inglaterra, a Alemanha, a Suíça, a Dinamarca, o México, a França, dos EUA, a Grécia, a Noruega,a Suécia, da Áustria, a Espanha, a Bélgica e a Holanda.

Neste lugar iluminado, a gigantesca clarabóia que paira no ar, majestaticamente, é um exemplo de como estes objectos são indiscutíveis obras de arte. Uma obra de arte dentro da obra de arte que é o Palácio da Bolsa do Porto.

Rui Marques
 
www.facebook.com/sotaques - Desvendamos a cultura luso-brasileira




António Granja, a nova moda portuguesa que se afirma com liberdade


O estilista português António Granja é um exemplo do gosto pelo risco e inovação da nova Moda portuguesa. Natural do Porto, licenciou-se pela ESAD, e abriu em 2013 um atelier em nome próprio, e revela-nos, nas suas criações, uma vontade desassombrada de criar com liberdade.

Moda é antes de mais atitude. Capacidade para mostrar cores diferentes, criativas, originais, de transgredir tabus e preconceitos.

E também é cultura: o estilista e designer português, António Granja, é um dos novos valores que desponta no panorama nacional. Com colecções diversificadas, que vão das colecções de vestidos que exploram motivos naturais como a roseira brava - que exalta o espírito do sofrimento das mães - à aposta em elementos como os ilhós com peças pretas, mais clássicas, este jovem designer nacional mostra uma versatilidade invulgar.

A preocupação em ligar moda e cultura, é uma constante na sua obra. Outro exemplo disso são os belíssimos marcadores de livros, em tecido, que conferem uma estética especial e apaixonam, por igual, os amantes da literatura e da moda.

A democratização da moda é outra das grandes preocupações de António Granja. Levar a moda de qualidade ao maior número de pessoas, a preços acessíveis, é um compromisso ético que faz parte do seu quadro de valores e princípios.

Para além do atelier, António Granja está presente nas plataformas virtuais e o seu trabalho pode ser melhor conhecido através do sitehttp://antoniogranjaatelier.weebly.com/ A nova moda portuguesa, com preocupações estéticas e éticas, encontra neste jovem estilista um exemplo de arrojo e gosto pela inovação.

Rui Marques

www.facebook.com/sotaques - Uma revista cheia de estilo

O voo apaixonado de William Gavião pelo Teatro

Actor, encenador, professor, o brasileiro William Gavião é uma das vozes mais respeitadas no meio teatral português. Vivendo em Matosinhos, elege esta cidade e o Porto como lugares de eleição, já entranhou o sotaque português, casou com uma portuguesa, e sente que descobriu no nosso país uma velha paixão: a arte de ensinar o amor pelo Teatro.

P – William:  pode fazer uma breve apresentação do seu trabalho profissional?
WG - Me formei como actor no Brasil, na escola de teatro Martins Pena, Rio de Janeiro em 1986/7, a escola muito conceituada e a mais antiga da América Latina. Tive uma carreira consolidada como profissional no meu país, onde integrei diversos espectáculos e projectos teatrais.
Vim ao FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica) no Porto, em 1986, com um espetáculo premiadíssimo no Brasil, foi quando conheci Portugal e minha esposa. Retornei ao Brasil, onde ainda participei como actor em outros espetáculos, mas o Brasil vivia um momento muito difícil economicamente, onde a arte e a cultura, como de costume nestes momentos de crise, sofria brutalmente.
O país vivia uma de suas maiores crises políticas e sociais, qua agravava ainda mais qualquer vislumbre de futuro. Tinha ambições e planos maiores de poder criar outras oportunidades de vida  e,  se para isso, fosse necessário mudar de país e recomeçar tudo de novo, estava disposto a fazê-lo, tinha construído algumas pontes e amizades em Portugal, o caminho estava feito, as oportunidades surgiram, e não pensei duas vezes, vim para Portugal de armas e bagagens.
Sem medo de me reinventar, fui construindo aqui, do zero a minha carreira no teatro. Dei continuidade ao meu trabalho como actor, e em Portugal também me descobri como encenador e professor de teatro. Fundei a minha própria companhias de Teatro de pesquisa – Teatro Reactor de Matosinhos, onde dei continuidade no meu trabalho e pude, de forma autónoma,  ,construir meus espectáculos, projetos e parcerias com o Brasil, estreitando sempre os laços que nos unem e alimentam culturalmente estas duas pátrias, e lá se vão 22 anos de Portugal…

P – Vive desde 1992 em Portugal. Como foi a adaptação ao nosso país?
WG- Não posso dizer que tive uma adaptação difícil, pois a  minha mulher é Portuguesa, tive desde sempre toda uma estrutura familiar, da parte dela, que me apoiou e acolheu. Tive também a sorte de conhecer pessoas e artistas interessantes do meio artístico, e sobretudo construir amizades sólidas.
Pude construir e conquistar meu espaço pouco a pouco,  e assim continuar a exercer o teatro e dar corpo aos meus projetos. As saudades do Brasil sempre foram as mais saudáveis, as minhas escolhas de vida e mudança de país, nunca trouxeram me arrependimentos.
Pouco a pouco,  e com o passar dos anos e dos trabalhos, também criei raízes aqui, raízes que hoje se confundem, se entrelaçam com as de minha origem, raízes estas que me deram outra pátria para além da minha. Tornei- me hoje um homem duplamente patriado…e sei bem o profundo sentimento da frase de Caetano Veloso, que diz, “Minha Pátria é minha Língua..”

– Que diferenças e semelhanças encontrou entre o Teatro português e brasileiro ?
WG - Talvez a maior diferença que tenha sentido,  é a duração de carreira dos espectáculos :  no Brasil podemos estar em cena até mais de 1 ano com um espectáculo :  quando este espectáculo  consegue algum reconhecimento de público  ou no mínimo 3 a 4 meses de temporada.
Em Portugal,  a carreira dos espectáculos é  mais curta ,  raramente chega a mais de 1 mês num mesmo espaço / teatro. Mas a cultura e os mecanismos teatrais em Portugal são diferentes, sempre houve subsídios e apoios para o teatro e suas estruturas, independente da justiça e equidade dos governos e organismos que os gerem.
Em  matéria da qualidade e do poder artístico e intelectual, não vejo diferenças, pelo contrário, o teatro português e alguns projetos e companhias em particular um pouco por todo país, fazem um trabalho teatral de extrema qualidade e com grandes actores. Destaco também as novas companhias, que atualmente, desenvolvem um teatro de grande preocupação do diálogo com a modernidade e com grande responsabilidade e envolvimento com a realidade que estamos inseridos.
Um teatro em sintonia com o seu tempo.

P - O que representam para o William, as cidades do Porto e de Matosinhos ?
WG - São ambas o berço que me acolheu. Duas cidades bem diferentes e igualmente belas, com encantos e recantos únicos. Tanto no Porto, como em Matosinhos, sentimos o peso da suas histórias e da sua gente, do poder avassalador de suas belezas naturais e patrimoniais, as ruelas, o Rio D’Ouro, o sol o mar de Matosinhos. A luz…a penumbra…as texturas…as cores…o cheiro…de tão diferentes cidades…inseridas e parte, ambas, do mesmo concelho, concelho do Porto !
Hoje Matosinhos tornou-se mais a minha cidade, pois nela resido e talvez seja bem suspeito para falar.

P – Quais são os seus lugares de eleição nestas cidades ?
WG- No Porto,  sem dúvida é a Ribeira com vista para rio D’Ouro. Em Matosinhos, gosto de Leça da Palmeira, da luz, as cores, sua costa, suas praias e o Museu da Quinta de Santiago.
P – Encontrou muitas diferenças entre o sotaque brasileiro e português ?
WG -Claro que sim…mas nada demais…que após alguns minutos a ouvir,  não habitue o ouvido e tudo fique natural, sem problema maior. O sotaque português e sua sonoridade, digamos ser um pouco mais dura, em comparação com o sotaque brasileiro, que é mais melodioso e musical.
Mas hoje, meu sotaque brasileiro esta mais aportuguesado, natural, depois de tantos anos. Um amigo meu, dramaturgo paulista, disse-me há pouco tempo, quando cá esteve, que não falo totalmente, nem com sotaque brasileiro e nem com sotaque português, falo com um terceiro sotaque, só não sei como lhe chamar.

P – Há alguma expressão ou palavras portuguesa que o tenha surpreendido?
WG - Prego em prato e a diferença no tratamento entre tu e você.
P – O William é ator e professor. Pode falar-nos um pouco mais da sua actividade docente  ?
WG - Ora bem, aí  está  uma competência que descobri em Portugal, uma facilidade de transmitir “conhecimento”, uma capacidade que estava adormecida, acredito que algo nato, que  já existia, nesta comunicação, neste desejo e felicidade de poder partilhar minha experiência de vida, que nunca esta separada de minha condição de actor.
Algo que fui potencializando ao longo dos anos. Ensinar é um ato de aprendizagem e generosidade infinda. O facto de que tudo aquilo que transmito, tenha vivido na pele, torna o ato da partilha e da troca de ensinamentos, uma experiência viva e única.
Um gesto de amor à  arte  e ao teatro que tenho vivido,  intensamente,  como professor. Creio que tornei me um actor melhor, um homem ainda melhor, aprendi a ver me melhor, vendo os outos.

P – Como olha para o ensino artístico em Portugal ?
WG - O ensino artístico em Portugal vem cada vez mais crescendo e criando raízes sólidas. Noto ao longo destes 22 anos que aqui estou, a enorme procura pelo aprendizado, nas mais diversas faixas etárias, pela experiência teatral, seja nas escolas de teatro, seja nas oficinas e Workshops que hoje alimentam esta enorme procura.
Um sinal muito positivo para o universo do teatro, um sinal de que hoje o teatro chega com mais força a muito mais pessoas, sejam elas amadoras, amantes, ou apenas curiosas pelo teatro. Hoje grande parte dos que procuram o teatro, sabem perfeitamente a complexidade, as inúmeras competências e feitos que arte pode surtir e fomentar no individuo. Potencializando o humano, numa libertação e descoberta de si mesmo, ante a vida e o mundo que o rodeia. O teatro é uma arma poderosa ante o pessimismo,  e os limites que a realidade e a  vida, muitas vezes,  nos impõem,  aprisionando-nos .
A arte e o teatro nos tornam mais fortes, críticos e atuantes ante a vida e nós mesmos.

P – E no Brasil ?
WG - O Brasil já tem uma grande cultura na procura do teatro, na arte da representação, muito à  custa da grande indústria do entretenimento e do áudio visual. Novas escolas de teatro surgiram e cresceram nas últimas décadas.
O teatro Brasileiro tem  um grande legado, no início do século, com as grandes companhias de teatro e actores que fizeram história no teatro, com o teatro de resistência política, na época da ditadura, e de todo processo que foi travado. O Teatro pode se estabelecer, crescer, criando bases sólidas e alimentando esta grande indústria da cultura e da arte,  um pouco por todo país.
Para não dizer da grande cultura dramatúrgica e dos novos autores,  que escrevem para teatro, novelas, cinema e outros formatos, uma verdadeira e valorosa safra de grandes autores e sobretudo grandes dramaturgos, a escreverem para teatro.

P – Criou o Projecto “ Salvé a língua de Camões. Em que consiste este projecto ?
WG - É um projecto da minha companhia Teatro Reactor Matosinhos que já vai no seu 10º ano em parceria com a Câmara de Matosinhos e o Museu da Quinta de Santiago. Este projeto acontece durante todo o ano, sempre à última quinta-feira do mês, no Museu.
É um projecto lusófono, que visa única e exclusivamente divulgar os novos autores e dramaturgos, poucos conhecidos entre nós, que escrevem em Língua Portuguesa, oriundos dos países lusófonos. Através de leituras dramatizadas dos textos teatrais destes autores,  contribuímos  para uma nova visão do teatro e da dramaturgia contemporânea de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, Portugal e Brasil.
Um projeto que criou parcerias com estes diversos países, que se estendem até  hoje, para além da escrita,  e que tem estimulado  um intercâmbio real em projetos e iniciativas culturais de grande valia para o fortalecimento da língua portuguesa e do teatro.
Deste projecto,  resultou em 2009, a  realização do 1º Festival Lusófono de Teatro Intimista, que tive a felicidade de conceber e realizar com o apoio da Câmara de Matosinhos, onde pudemos receber em Matosinhos companhias de teatro vindas destes países, no então recém aberto teatro Constantino Nery – Matosinhos.
Também  nos proporcionou apresentarmos   os nossos espectáculos no Brasil e em Cabo Verde. Este ano de 2014,  entramos no 11º ano do projeto, com inúmeras surpresas e parcerias…e a  aguardar pelas boas novas.

P – Quais são projectos em que está a trabalhar
WG - Neste momento, trabalho para a 11ª edição do Salvé a Língua de Camões, que começa em fevereiro de 2015, como disse anteriormente, com muitas novidades, colaborações e parcerias, para além da Câmara de Matosinhos e o Museu da Quinta de Santiago, os  nossos parceiros de costume.
Preparo um projeto de um novo espetáculo teatral adulto e para infância, e também acolheremos outros projetos vindos do Brasil. Como professor de teatro, virão novas oficinas de teatro, na ESAG (Escola Secundária Augusto Gomes), onde leciono a 4 anos, a continuação do meu trabalho de 9 anos a dar teatro para as crianças, nas escolas do ensino básico do concelho de Matosinhos, nas actividades de Enriquecimento Curricular.
Mais outros projectos estão a ser cozinhados nos melhores temperos…eu…estarei sempre em movimento ininterrupto…sempre inquieto….assim vive e voa este Gavião.

P – O que representa o Teatro para o William ?
WG - O teatro é o que me move, o que torna minha existência possível e útil. O teatro para mim é como uma missão, de servir, comungar e partilhar com meus semelhantes, de comunicar e dialogar com meu tempo. O teatro reconstitui, dota o Homem – na afirmação total de seu poder de comunicação, expressão, sociabilização, crítica e consolidação de sua identidade cultural, política e social.
O teatro é uma experiência divina, que leva mais do que uma vida inteira, para quiçá podermos alcança-lo, nas suas mais profundas entranhas. Precisaríamos voltar a nascer, recriarmo-nos, reinventarmos -nos para viver totalmente o teatro.
Isso tentámos  fazer, a cada noite, a cada momento que nos entregámos a esta arte.
Para resumir tudo isso, lembro - me de como os Gregos se saudavam uns aos outros antes de entrar em cena, naqueles anfiteatros: cada noite que entravam naquela arena e enfrentavam aqueles milhares de pessoas e imperadores na plateia, diziam simplesmente; “CONHEÇE-TE A TI PRÓPRIO!”. É exatamente isso que venho praticando a 50 anos….
 
Rui Marques

  www.facebook.com/sotaques – O Palco da sua Cultura


Leia aqui a edição de Agosto

Caro leitor: deixe-se iluminar pela arte através da revista Sotaques Brasil/Portugal de Agosto ! 

Leia aqui a edição de Agosto 




http://issuu.com/sotaques/docs/revista_agosto?e=0



www.facebook.com/sotaques - www.sotaques.pt Entre na rede que está a estimular as relações luso-brasileiras .

Manifesto antropófago

Mário e Oswald de Andrade, os dois irmãos génios da Literatura brasileira

Apesar do apelido comum, Mário e Oswald não eram irmãos, nem parentes. Mas foram,  durante um breve lapso de tempo,  amigos e parceiros num movimento artístico que revolucionou a cultura brasileira,  tal como a conhecemos.

Primeiro as apresentações. Mário  Raul de Morais de Andrade nasceu em São Paulo a 9 de Outubro de 1893, e foi aquilo que podemos definir como um polímato, um talento em múltiplas áreas culturais   que se distinguia como poeta, escritor, musicólogo, folclorista e ensaísta, e que  é considerado o pioneiro da etnomusicologia.

José Oswald de Sousa Andrade também é nativo de São Paulo, cidade onde veio ao mundo no dia 11 de Janeiro de 1890. Poeta, romancista e dramaturgo, foi o autor dos dois manifestos mais importantes do modernismo brasileiro – o Manifesto do Pau Brasil e o Manifesto antropófago – influenciado pela mistura do futurismo e do cubismo, que descobriu em Paris, e combinou numa mescla improvável com elementos da cultura polinésia e africana.

Estes dois homens talentosos rebelaram-se contra a velha República, controlada pelas Oligarquias do café, que importava os modelos estéticos e culturais e europeus,  e os implantava no Brasil. Um pouco à imagem dos movimentos portugueses, desde os “ Vencidos da vida” – Eça, Antero ou Oliveira Martins- ou dos seus  contemporâneos do movimento Orpheu – Fernando Pessoa, Mário de Sá –Carneiro –  a nova geração brasileira  queria marcar a sua posição e impor novos valores.

O Teatro Municipal de São Paulo foi o epicentro da revolta. O Governador do Estado, Washington Luís, apoiou os jovens artistas e, em três dias, personalidades da estatura de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Victor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida  ou  Di Cavalcanti,  reuniram-se para discutir as bases de  uma nova arte brasileira.

Mário e Oswald de Andrade escreveram os textos fundamentais do movimento : Oswald, como se disse anteriormente, foi o autor do manifesto antropófago e do manifesto do Pau-Brasil, defendendo que era preciso deglutir a cultura brasileira, indo aos seus valores mais ancestrais que se encontravam reflectidos na cultura dos índios e dos negros; Mário redigiu “ Pauliceia desvairada” que é um livro de poemas onde faz uma crítica mordaz ao conservadorismo da cidade de São Paulo, e às várias classes sociais em trechos tão chamativos como “ Ode ao burguês” ou as “ Senectudes tremulinas”, uma referência aos milionários e burgueses que aceitavam, acriticamente, tudo o que vinha de fora, e defende as “ Juvenilidades auriverdes” que são os modernistas que querem transformar a sociedade e a arte que esta produz.
Nesses três intensíssimos dias, o Brasil mudou. Da escultura à música, da literatura à pintura, os modernistas desenharam os novos rumos da cultura do país, mostrando que havia algo muito mais rico que a mera cópia dos modelos europeus.

Sem estes dois  irmãos génios da literatura, Mário e Oswald de Andrade, irmãos de espírito, revolucionários com causa, o Brasil nunca teria olhado, interiormente para si, para as suas riquezas culturais, e criado um discurso e uma prática afirmativa e personalizada do que é a cultura brasileira face ao mundo.

António Santos


www.facebook.com/sotaques - www.sotaques.pt -  A Revista dos grandes escritores da Língua Portuguesa 

A arte uniu William Gavião a Portugal

O teatro português e brasileiro sempre tiveram uma relação muito forte. Desde o Teatro de revista português que influenciou o teatro brasileiro, nos primórdios do século XX, até às companhias que circularam entre o Atlântico, ou os atores que trabalharam nos dois países. O actor e encenador brasileiro William Gavião é um exemplo bem sucedido dessa ponte cultural que urge fortalecer.

Para muitos actores, o palco é o lugar sagrado. Uma espécie de espaço religioso e cósmico que faz do actor um sacerdote,  que transmite à sociedade as verdades inconvenientes que ela procura esconder.
William Galvão vive há 22 anos em Portugal,  e conserva bem presente essa chama da arte teatral. Ouvi-lo nesta entrevista leva-nos a pensar  na importância das artes na ligação luso-brasileira, e da forma como ela quebra barreiras, junta homens e mulheres, aproxima-nos de um modo muito mais íntimo .
O seu trabalho em projectos como “ Salvé a  língua de Camões” é um notável exercício de enriquecimento da língua e da cultura. Criado pela sua companhia Teatro Reactor de Matosinhos, já vai na 11ª edição, com parcerias com a câmara municipal local e a Quinta de Santiago.

Um projecto que se prolonga durante um ano, e decorre na última quinta de cada mês na Quinta de Santiago. Consiste na leitura de textos dramatizados de autores de países como Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde ou Guiné Bissau, e  tem proporcionado um intenso intercâmbio, com várias companhias teatrais desses países a virem a Portugal e, por exemplo, o Brasil e Cabo Verde a receberem estes espectáculos.

Em 2014, o projecto entra na sua 11ª edição, com novas parcerias e convidados. O que é uma óptima notícia para todos aqueles , como a revista Sotaques Brasil/Portugal, que acreditam na importância das artes como vínculo cultural entre os povos.
Além da sua actividade como actor e encenador, o nosso entrevistado descobriu em Portugal a sua vocação como docente. Como alguém que quer deixar um legado e transmitir às novas gerações a paixão pelo Teatro.

William Galvão é, sobretudo, um apaixonado por Portugal. Alguém que encontrou na arte que ama um elo de ligação ao nosso país.

Fortaleçamos esta união. Porque a arte e a língua unem-nos nesta tarefa comum: tornar a nossa cultura cada vez mais forte nas nossas fronteiras e fora delas.

Rui Marques
 
www.facebook.com/sotaques  – O Palco da sua Cultura

Alua Pólen: um casal com 30 anos de amor à arte

Alua Pólen é um anagrama que junta os nomes do casal de artistas formado por Manuel António e Paula Dacosta. Uma união afectiva e artística com 30 anos de ligação,  que nos tem deixado grandes obras como o famoso Túnel da Confraria de Vizela, em que formaram durante dois anos,  mais de 3000 meninos e meninas, em 2007,  para criar o maior Túnel  do mundo pintado por crianças.
A revista Sotaques falou com o pintor Manuel António,  Pólen, sobre este matrimónio artístico,  consolidado ao longo das décadas.

P – Como  surgiu este projecto artístico e de vida com mais de 30 anos ?
AP – Tanto eu como a Paula éramos empregados de escritório. Eu, paralelamente, também desenvolvia a minha actividade artística, conheci-a e pedi-lhe que fosse a minha ajudante.
Conversamos muito sobre o futuro,  e daí surgiu este projecto que continua vigente até aos dias de hoje.

P – Que balanço fazem deste projecto ?
AP – Muito positivo. Em primeiro lugar, nunca sonhávamos  que a arte nos desse a autonomia que temos actualmente.
Ao princípio,  pintávamos em papel de embrulhar bacalhau, com poucos recursos, em locais pequenos como cafés ou gelatarias. Mas o nosso trabalho foi sendo reconhecido, pelo público e pela crítica, e foi muito gratificante este reconhecimento.
Em 2012,  fizemos uma retrospectiva em Gondomar da nossa carreira artística, e foi emocionante ver quantas pessoas conheciam a nossa obra.

P – O túnel de Vizela foi um momento especial nessa carreira ?
AP – Sem dúvida. Foi um projecto muito importante.
Vivemos durante 12 anos em Vizela, onde também estivemos ligados à formação e ao ensino, e no âmbito dessa actividade, surgiu o projecto de dar formação a mais de três mil crianças para pintarem o Túnel da Confraria de Pêras, nesta cidade.
O Túnel demorou dois anos a estar pronto, com as pinturas acabadas, e quando foi inaugurado, em 2007, era o maior Túnel de azulejos  pintado por crianças do mundo – com 2000 metros em pinturas.  Foi um momento extraordinário pela experiência e pela autonomia financeira que nos proporcionou, permitindo-nos comprar uma casa no Parque Nacional da Peneda- Gerês, em Castro Laboreiro,   onde vivemos.

P – Ensinar crianças é diferente  ?
AP – Penso que as crianças são pequenos génios. A escola é muito formatadora, molda a sua criatividade, e eu acho que devemos dar liberdade criativa às crianças.
Se o fizermos, elas são capazes de obras extraordinárias.

P – Pode descrever-nos o vosso processo criativo ?
AP -  Nós partimos do abstracto para o simbólico, numa rotação de 360 graus,  que transforma um quadro inicial em algo completamente distinto. Ou seja: juntamos duas ou três cores – o azul e o lilás, por exemplo -  usamos a química e criamos livremente, sem nenhuma imposição, um pouco à imagem do que faziam artistas como o Picasso.
É algo intuitivo, uma herança cósmica que sentimos dentro de nós, e que se vai manifestar numa forma final que nunca sabemos, à partida, como irá ser.
Costumo dizer que eu não sei pintar:  eu disfarço aquilo que sai.

P – Quais foram as suas grandes inspirações na pintura ?
AP – A minha principal referência foi o meu mestre,       Moreira de Azevedo, um académico e  artista português que tinha uma Escola em Brasília,  que nos  dava- uma lavagem mística,  desafiando-nos  sempre a seguirmos o nosso próprio caminho.

P – O intercâmbio entre artistas portugueses e brasileiros é muito importante também nas artes plásticas ?
AP – É vital que os artistas circulem entre o Brasil e Portugal, que dialoguem entre si. Isso só enriquecerá a sua arte.

P – Vivem em Castro Laboreiro, uma zona com uma enorme beleza paisagística. Como é que este meio inspira o vosso trabalho ?
AP – Castro Laboreiro tem moldado a minha arte. Quando olhamos à nossa volta,  sentimos que o olhar do artista está em todo o lado: na textura de uma árvore, nas formas do granito, que são um capricho dos Deuses, e essa é uma engenharia positiva que impele o meu subconsciente a criar.

P – O que é a pintura para o Manuel António ?
AP– A pintura é uma forma de podermos sintetizar a forma poética de estarmos vivos. Desde os catorze anos trabalhei num escritório, mas mesmo nessa fase,  eu tinha necessidade de me expressar através do papel, de desenhar, de tirar essa pressão de estar fechado num local de trabalho.
Quando saio com amigos, não consigo estar mais de duas horas com eles. Tenho um desejo enorme de voltar a pintar.

António Santos

www.facebook.com/sotaques - Divulgamos as parcerias com sotaques 









Prancha de surf em cortiça




Oficina cria pranchas com rolhas de cortiça e madeira de planta existente no Algarve.

Empresário Octávio Lourenço a segurar uma prancha de surf feita com rolhas de cortiça recicladas.

www.facebook.com/sotaques - Divulgamos a qualidade do que é nosso !