Sotaques vai de Férias

Caros leitores e seguidores, como habitualmente nesta época vamos parar um pouco, retemperar as forças e regressar, em Setembro, com nova energia, novas ideias, projectos, eventos. Em Setembro vai haver muitas novidades e queremos prepará-las da melhor maneira, como o cozinheiro Gourmet que se retira, espiritual e fisicamente, para experimentar novos ingredientes, que melhorarão ainda mais um Menu já de si delicioso. 

Não deixaremos, porém, de ir partilhando uma ou outra imagem, uma ou outra música ou notícia convosco. E teremos as crónicas que Rui Marques escreverá, em Agosto, sobre o seu Verão como aperitivo para os pratos principais que serviremos a partir de Setembro. 

Um abraço e até já, 

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Entrevista com Sotaques: Adriano Eysen Rego, um escritor com paixão pela Heteronímia pessoana


Escritor de múltiplos recursos e Professor universitário, Adriano Eysen Rego é também um apaixonado estudioso de Fernando Pessoa e de Mário de Sá Carneiro. O Sotaques falou com este escritor brasileiro que se desdobra em vários personalidades literárias, à imagem dos heterónimos do seu admirado Fernando Pessoa. 
P – O Adriano é poeta, contista e crítico literário, ensaísta, além de escrever crónicas e artigos na Imprensa. Em que área literária e jornalística se sente mais cómodo? 
R – Eu diria que a Poesia é a actividade literária em que me sinto mais à vontade. Exemplo disso, são obras como “ Cicatriz do silêncio” ou “Espelho D’ Água” uma colectânea de poemas que também foi editada em CD, onde declamo a minha poesia.
Isto sem desprimor por outros géneros literários, que vão do Conto ao Ensaio ou artigo jornalístico, que também cultivo com prazer.
P – Como é que o Professor universitário Adriano Eysen vê o escritor ? Que características destaca na sua escrita ? 
R – Eu afirmaria que é uma relação ambígua: o escritor mexicano Octávio Paz falava da dupla face da Literatura, já que esta é indissociável das nossas memórias literárias. Julgo que esta dupla condição, gera uma maior auto-exigência do autor.
Quando escrevo, tenho dentro de mim os ecos dos autores que li – por exemplo, Pessoa e Sá Carneiro – e, por isso, vou construindo, com cautela, a Obra através de uma carpintaria específica, em que as palavras tem de ter um valor próprio, único, para fazerem sentido.
P – Quais são as suas grandes referências literárias entre os escritores portugueses, brasileiros ou de outras nacionalidades ? 
R – No campo do Ensaio, eu assinalaria Octávio Paz, por causa de Obras como a Dupla Chama ou o Arco e a Lira, que me impressionaram pela erudição e clareza literário. Também destaco ensaístas brasileiros como Afonso Roman Santana ou Cleonice Bernardelli, ou portugueses como Jorge de Sena e Teresa Rita Lopes.
Na poesia tenho de destacar em Portugal, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro ou Camões e, no Brasil, sou um admirador do poeta Castro Alves, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Mello Neto ou o poeta baiano Rui Espinheira Filho.
P – Eça e Jorge Saramago também são admirados no Brasil ? 
R- Sem dúvida. Eça, mais propriamente o “ Primo Basílio”, é estudado nas Universidades na cadeira de português.
Também existem agremiações literárias que falam de Eça. Quanto a José Saramago, os livros dele são muito lidos pelos brasileiros, nomeadamente o “ Ensaio sobre a Cegueira”, que foi adoptado para o cinema pelo Fernando Meireles.
É um escritor fundamental, porque nos transmite uma mensagem humanista, em que o ser humano tem de ser colocado no Centro do Mundo.
P – A escrita para si é um dom natural ou é um trabalho de persistência ?
R – O escritor é um “fatalizado”. Ou seja: há sempre um processo de amadurecimento, de trabalho e persistência, portanto o talento tem de se pôr à prova, de se aperfeiçoar para gerar frutos.
P – O ensino da Literatura no Brasil é o adequado ou acha que deveria haver mudanças ? Se sim, quais ? 
R – Tem melhorado muito. Nos Cursos universitários da Baía, por exemplo, temos procurado repensar os programas, com o objectivo de acompanhar as próprias mudanças do Mundo.
Acho que há Universidades brasileiras que tem feito um trabalho sério, repensando os programas e as referências, e procurando manter-se actualizadas.
P – Lê em formato digital ou prefere sempre o formato em papel, mais tradicional ? 
R – Prefiro o papel, porque tenho uma relação sinestésica com a Literatura. Necessito sentir aquilo que leio e, nesse aspecto, o papel é essencial e único.
P – Que papel tem as redes sociais no desenvolvimento da forma como escrevemos romances ou livros de poesia ? 
R – Antes de mais, como disse atrás, a linguagem está num processo dinâmico e, nesse sentido, podem ser interessantes os contributos das redes sociais. Desde que não levem à banalização e à exposição da vida privada.
P – O espaço da Literatura nos Jornais vai acabar ? 
R – É inegável que a Literatura tem perdido espaço nos Jornais e essa tendência é perigosa. Por isso, creio que devemos respeitar essa tradição literária – de juntar Jornalismo e Literatura – porque foi graças a ela que tivemos, no século XIX, uma grande Geração de escritores a escrever folhetins que marcaram a História das nossas Literaturas.
P – A Revista Sotaques Brasil/Portugal valoriza as diferenças de Sotaques em Portugal e no Brasil. Há algum Sotaque brasileiro que aprecie particularmente ? 
R – No Brasil há uma enorme diversidade dialectal de sotaques, mas se tivesse de escolher um, diria que o nordestino, pela sua musicalidade.
P – Como encarou as últimas manifestações no Brasil ? 
R – Vi-as como uma reivindicação natural dos brasileiros, que aspiram a beneficiar dos progressos do país em áreas essenciais para as suas vidas como a saúde, a educação ou o combate à corrupção.
P – Que opinião tem de Portugal ? Como tem visto o nosso país ? 
R – Fiquei com a impressão de um país denso, com muita História. Aqui no Porto tive uma recepção calorosa e participei em Eventos que me marcaram como as “ Janelas do Fado” em Matosinhos, onde tive o privilégio de ouvir cantar o Fado.
P – Quem foi para si Fernando Pessoa ? 
R – Pessoa foi um Universo em ebulição,tanto filosófica como poeticamente. Foi uma centelha de vida que nos iluminou e continua a assombrar até hoje.
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