Dia Internacional do Jazz em Portugal e no Brasil


É fácil descobrirmos afinidades musicais entre o Jazz e os países lusófonos - nomeadamente  Portugal e o Brasil -  pelo que não espanta o grande número de portugueses e brasileiros que amam este género musical. A africanidade do ritmo, o modo compassado como se entoam as notas musicais, a alegria dos movimentos, tudo remete para uma ligação umbilical a África, que posteriormente conquistou  os Estados Unidos e ganhou  uma dimensão global. 
Neste Dia internacional do Jazz, só temos motivos para celebrar em Portugal e no Brasil. Em Portugal, entre outros nomes, temos de destacar Joel Xavier e Jacinta. 
Joel Xavier é um menino prodígio do Jazz português : começou a tocar guitarra clássica aos 15 anos, aos 19 participou num concurso de guitarristas , nos Estados Unidos, tendo sido considerado  um dos melhores cinco guitarristas do ano no país, músico eclético e criativo surpreendeu em 2001 com o Disco " Lusitano", que misturava música tradicional portuguesa, Jazz e Fado, e gravou o seu último Disco" Saravá", que é uma junção de ritmos lusófonos e brasileiros e Jazz. Jacinta é uma cantora portuguesa que ganhou projecção com a participação no programa " Chuva de Estrelas" da SIC, interpretando Ella Fitzerald, posteriormente foi estudar música para os Estados Unidos, voltando a Portugal onde a sua carreira musical passou pela participação em quatro Discos e vários espetáculos, onde devemos realçar a voz quente e a excelente capacidade de interpretação desta cantora que foi considerada por José Duarte, responsável do mítico programa de Jazz da Antena um, " Cinco minutos de Jazz", a cantora de Jazz portuguesa por excelência. 
No Brasil também há talentosos músicos de Jazz. Podemos destacar nomes como Derico - o saxofonista José Frederico Sciotti, que participa no programa do Jô - o também saxofonista Carlos Malta, o guitarrista Hélio Delmiro ou o trompetista Claúdio Roditi. O magnífico violoncelista Jacques Morelenbaum,,  que tem uma extensa lista de colaborações com os grandes nomes da Bossa Nova,  ou o Trio Jobim são outros  dois nomes incontornáveis no que diz respeito à interpretação dos clássicos da música Jazz no Brasil. 

Autor: Rui Marques 

Livros com Sotaques: escritora brasileira Thalita Rebouças apresenta " Que cena, filha", na Feira do Livro de Lisboa






A escritora brasileira Thalita Rebouças está presente  na Feira do Livro de Lisboa, que começou esta semana,  para apresentar a sua sétima obra no nosso país " Que cena filha". Jornalista e escritora, especializada em Literatura juvenil, Thalita Rebouças Teixeira nasceu no Rio de Janeiro em 1974, e conheceu a fama a partir de 2003 com o lançamento das colecções  " Fala a sério" ou  " Que cena", entre outros títulos que venderam cerca de um milhão de exemplares no Brasil.
A sua linguagem divertida e ao mesmo tempo pedagógica captou a atenção do público, e os seus livros da série " Que cena" foram publicados, em 2009, em Portugal. Surge agora uma oportunidade para conhecermos melhor  uma escritora que, no Brasil, conseguiu a proeza de concorrer com " Harry Potter" e outros grandes êxitos da Literatura juvenil mundial. 

Autor: Rui Marques  

25 de Abril: o primeiro Dia do resto das nossas vidas

Quarenta e uma anos de Ditadura, de vidas destruídas, de liberdades censuradas, de um país amordaçado e à margem da realidade, acabaram a 25 de Abril de 1974. Da forma mais poética que pode assumir uma Revolução - com o povo na rua e os militares a colocarem cravos nas espingardas, com a imensa massa, do popular ao intelectual, a participar numa festa que  mudou  decisivamente a nossa História.
Antes deste dia que marcou e marca as nossas vidas, o país vegetava num Estado Novo que apodrecia de velho. Depois da primeira República que vigorou até 1926, houve um breve período de Ditadura militar - entre 1926 e 1933- liderado pelo Presidente Óscar Carmona que trouxe para o Governo um professor de Finanças públicas da Faculdade de Direito de Coimbra, António de Oliveira Salazar. 
A partir de 1933, Salazar assume-se como o líder de um novo regime - o Estado Novo - que terá uma longevidade de 41 anos, só sendo derrubado a 25 de Abril de 1974,  através de um golpe militar. Entre as características do Salazarismo destacam-se o anti-parlamentarismo, o colonialismo, a falta de liberdades, a censura, o clericalismo exacerbado, o condicionamento industrial das Empresas,  e o culto da personalidade - no caso de Salazar, elevado à categoria de ídolo do regime, basta ler os livros de António Ferro para vislumbrarmos  a imagem de um homem casto e honesto, que vivia para e pelo Estado, numa  reclusão da realidade. 
Na realidade, os mitos do Estado Novo e de Salazar  não sobrevivem a uma análise profunda. O condicionamento industrial e o colonialismo destruíram o tecido empresarial português, a falta de liberdade e de democracia atrasaram o país e não lhe permitiram fazer parte da então Comunidade Europeia antes dos anos 80, e sobretudo Gerações de portugueses viram-se obrigados a emigrar, foram presos, torturados, objectos de permanente vigilância e censura . 
A 25 de Abril de 1974, já com a chefia do Governo de Marcelo Caetano, após a morte de Salazar, foi  uma invulgar Revolução espantou o país e o mundo. Comandada pelo movimento das Forças armadas, que fora secretamente criado por militares descontentes com a situação, planificou o derrube da Ditadura - a 24 de Abril de 1974, um grupo de militares chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho toma o quartel da Pontinha em Lisboa, às 22h55 é transmitida a primeira senha da revolta, a canção " E depois do Adeus do Deus", de Paulo de Carvalho, nos Emissores Associados de Lisboa, à meia noite e vinte soa a canção " Grândola Vila Morena", de Zeca Afonso, no programa " Limite" da Rádio Renascença, que confirmava a irreversibilidade do movimento revolucionário. 
Numa acção estratégica concertada, mobilizam-se as forças a Norte - uma força  liderada  pelo tenente coronel Carlos de Azeredo toma o Governo Militar do Porto, outra proveniente de Viana apodera-se do aeroporto Sá Carneiro, e de Santarém  para tomar o Terreiro do Paço outro comando chefiado por aquele que seria o rosto icónico de Abril, o capitão Salgueiro Maia . 
Esperava-se resistência do Estado Novo, mas se exceptuarmos a tomada do quartel do Carmos e a captura de Marcelo Caetano, assistimos a uma Revolução  limpa, sem sangue, pacífica. Com um simbolismo fortíssimo - a dos soldados com os canos das espingardas cheias de cravos - que teriam sido oferecidos por uma vendedora aos populares que aos deram aos militares. 
A música é uma filha predilecta de Abril. Para além de " E depois do Adeus" e de "Grândola Vila Morena", o período pós- revolucionário é rico em grandes cantores - Zeca, Fausto, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira ou Sérgio Godinho - e músicas que marcaram uma Geração que vislumbrava, finalmente, a Liberdade. 
Deste último, destaco uma banda sonora que podia bem ser a canção da Revolução " Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida". O 25 de Abril foi, realmente, o primeiro dia do resto das nossas vidas. 


Autor: Rui Marques 


Semana da Liberdade no Sotaques





Esta é uma semana especial para Portugal. Amanhã comemora-se o 37º aniversário da Revolução de Abril,e  o Sotaques Brasil/Portugal vai dedicá-la  à Liberdade, aos rostos  que a protagonizaram e às  canções que serviram de senha para a Revolução.
Vamos falar de como era o Estado Novo de Salazar, como foi planeada a Revolução, quem foram os seus heróis,  e o que é que o 25 de Abril significou para Portugal. Uma Revolução que espantou o mundo pelas suas invulgares características, com cravos à mistura,  e sem a violência que associamos aos movimentos revolucionários. 
Sofia de Mello Breyner Andersen, uma das heroínas da Revolução  - junto com uma  corajosa geração de intelectuais como  Natália Correia, Jorge de Sena, Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro, Agostinho da Silva,  Miguel Torga, António Sérgio, António José Saraiva- que combateram a Ditadura e sofreram, muitos deles o exílio e a morte, sem assistirem  ao fim do Regime – escreveu, emocionada, o advento da Liberdade  num poema imortal.

 " Esta é a madrugada que eu esperava,
 o dia inteiro e limpo
onde emergimos da noite e do silêncio
e livres habitamos a substância do tempo" . 

Autor: Rui Marques 

Feliz Dia mundial do Livro


Hoje, dia 23 de Abril, comemora-se o Dia mundial do livro. A ideia de assinalar uma celebração especial  da Literatura nasceu na  Catalunha, no dia de São Jorge, consistindo, entre outros eventos,  na troca simbólica de uma rosa por um livro, que foi adoptada  por vários países.
Desde 1996,  realiza-se, por indicação da UNESCO, o Dia mundial do Livro, uma data que foi escolhida porque se julga que nesse dia terão morrido Shaeskpeare e Cervantes.
Falar do Livro é referir não um objecto que folheamos, mas num organismo vivo, num amigo, num ser com que compartilhamos experiências. O Livro está presente nas nossas vidas : desde a Literatura Infantil às obras que reflectem sobre a morte, ele vive connosco, lado a lado, respira as nossas alegrias e frustrações, testemunha os nossos amores e paixões. 
Escrever e ler a nossa experiência quotidiana, é uma necessidade intrínseca à condição humana. Graças ao espelho profundo de nós que é a Literatura, podemos pensar-nos, olhar para o nosso interior, vislumbrar  quem fomos, quem somos,  quem queremos ser.
O livro é o amigo invisível mais presente da História da Humanidade. É uma presença espiritual imprescindível que sentimos todos os dias, todas as horas. 
A todos os nossos amigos,  leitores de Livros, que amam a Literatura, desejamos um dia de grandes leituras. 

Autor: Rui Marques

Descobrimento do Brasil

O Descobrimento do Brasil- 22 de Abril de 1500

A chegada dos portugueses ao Brasil

O Descobrimento do Brasil ocorreu no dia 22 de abril de 1500. Nesta data as caravelas da esquadra portuguesa, comandada por Pedro Álvares Cabral, chegou ao litoral sul do atual estado da Bahia. Era um local que havia um monte, que foi batizado de Monte Pascoal.

No dia 24 de abril, dois dias após a chegada, ocorreu o primeiro contato entre os indígenas brasileiros que habitavam a região e os portugueses. De acordo com os relatos da Carta de Pero Vaz de Caminha foi um encontro pacífico e de estranhamento, em função da grande diferença cultural entre estes dois povos.

Dia de Tiradentes – 21 de Abril


No dia 21 de Abril é comemorado no Brasil o dia de Tiradentes, sendo um feriado nacional.
Joaquim José da Silva Xavier nasceu em Minas Gerias no ano de 1746. Ele sofreu desde pequeno com a perda de seus pais, ainda quando  criança, sendo então criado pelo seu padrinho na cidade de Villa Rica (atual Ouro Preto).
Ainda jovem decidiu trabalhar como vendedor ambulante, mais tarde tornou-se Dentista (daí o nome Tira Dentes). Outras funções que Tiradentes realizou foram: tropeiro, comerciante, minerador, entre outros.
Aos 18 anos ingressou na carreira militar sendo soldado da arma de cavalaria.
A Inconfidência Mineira
Na época da colonização portuguesa, todos os brasileiros eram prejudicados, para não falar humilhados. Todos deviam pagar altos impostos, entre eles havia aquele no qual deviam ser entregue a 5ª parte do seu ouro à Coroa Portuguesa.
Tiradentes sendo tal situação teve a atitude de se envolver com a Inconfidência Mineira. O acontecimento ocorreu em 1789, em Vila Rica, onde objetivo era a libertação do Brasil da corte Portuguesa. Tiradentes viajou até o Rio de Janeiro, local onde teve idéias para que o movimento fosse realizado com sucesso, na volta a sua cidade começou a ser divulgado o movimento.
Porém o coronel Joaquim Silvério dos Reis não foi a favor do movimento, denunciando todos do grupo, tal consequência causou a prisão de todos, inclusive Tiradentes que ficou três anos preso no Rio de Janeiro e assumiu toda responsabilidade da conspiração, livrando a vida de seus companheiros do movimento.
Como punição Tiradentes foi sentenciado a morte, sendo enforcado no dia 21 de abril de 1792, no campo da Lampadosa, local que hoje é conhecida como a Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro. Mesmo com a morte de Tiradentes o movimento foi um grande sucesso, trinta anos depois o Brasil se tornou independente de Portugal.
No ano de 1822 Tiradentes foi reconhecido como mártir da Inconfidência Mineira e, a partir de 1890, passou a ser considerado herói nacional.

Manuel Bandeira: o poeta que revolucionou a Literatura brasileira




Foi um poema de Manuel Carneiro Bandeira Filho, nascido a 19 de Abril de 1886, no Recife, intitulado   " Os sapos", proferido por Ronald de Carvalho que o leu, em representação do poeta que estava doente,   numa das Conferências da semana de arte moderna de São Paulo, em 1922, que simbolizou a afirmação literária e estética  da talentosa Geração modernista brasileira. Tal como em Portugal emergia  a modernismo, através da Literatura de Pessoa e Sá Carneiro ou das performances artísticas  de Almada Negreiros, no Brasil reivindicava-se uma nova arte e Literatura, que não imitasse o que se fazia na Europa, mas   mostrasse uma identidade própria, orgulhosa, convictamente brasileira. 
Entre os dias 13 e 17 de Fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo,  juntaram-se os grandes nomes do modernismo brasileiro. Figuras emblemáticas  como  Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Heitor Villa-Lobos ou Vitor Brecheret discutiram, em  cada dia daquela  semana, os novos caminhos artísticos nas áreas da pintura, escultura, poesia, literatura.
Manuel Bandeira começou a publicar a sua primeira obra  " A cinza das horas",  em 1917, caracterizada pelo estado de melancolia e amargura que então lhe provocava uma doença , e dois anos depois escreve " Carnaval", uma obra pioneira do modernismo brasileiro,  onde já utilizava os versos livres. 
Seguem-se obras como " Libertinagem", " Estrela da tarde" ou " O bicho", entre outras, marcadas pelo humor, pela liberdade criativa e pela crítica aos cânones parnasianos,  que então dominavam os gostos do público. 
Professor de Literatura no Colégio D. Pedro II, em 1940 foi eleito membro da Academia brasileira de Letras  e, mais tarde, foi docente de Literaturas hispano-americanas   na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil
Morreu a 13 de Outubro de 1968 , sendo enterrado no túmulo 15 da Academia. Pioneiro, inovador, revolucionário das formas literárias,  é um dos nomes maiores da Literatura brasileira no século XX. 

Autor: Rui Marques  


Origens do Dia de Santo Expedito

Hoje comemora-se o Dia de Santo Expedito, o patrono das  causas urgentes que é celebrado em vários países , entre os quais  Portugal e o Brasil. Foi no dia 19 de Abril de 303 que, segundo reza a lenda, Santo Expedito foi flagelado por soldados do Império. 
Natural da Arménia, na Europa do Leste, que então fazia parte do Império romano, Santo Expedito era o Chefe da 12ª legião romana que servia o Imperador Diocleciano e que se caracterizava por ser constituída, maioritariamente, por cristãos. O seu ardor e coragem chamaram a atenção de Roma, que estava naquela época a martirizar vários apóstolos  cristãos - entre os quais São Paulo e São Pedro - e Santo Expedito acabou por ser sacrificado, em Metilene, Arménia, a 19 de Abril de 303. 
O seu culto e exemplo é celebrado tanto em Portugal como no Brasil e,  a oração a Santo Expedito,  invoca as causas mais urgentes e mais justas e protege os fieis em questões financeiras. 

Autor: Rui Marques 

Livros com sotaques: "As Causas da Decadência dos povos peninsulares"



Nas últimas décadas do Século XIX, o mundo fervilhava  impulsionado por uma Europa em pleno  apogeu. Economicamente, a Revolução Industrial modificava não só a feição industrial dos povos como  aumentava a produtividade  e o bem-estar,    ideologicamente  os novos ventos da História trazidos por Marx, Engels, Proudhon ou Saint Simon,  faziam adivinhar o advento de um novo Tempo,   mais próspero e humano. 
Em Portugal, porém, as novas ideias não circulavam: foi para deixar entrar a modernidade, no país, colocando-o a par do desenvolvimento que sucedia nos outros países europeus,  que se organizaram as Conferências do Casino Lisbonense  ou Conferências democráticas em 1871, em Lisboa. 
Delas resulta um livro que ainda hoje é uma referência quando se pensa Portugal : "As causas da decadência dos povos peninsulares". A obra, gerada a partir da Conferência proferida por Antero de Quental, com o mesmo título, é uma profunda imersão nos motivos  que levaram  Portugal e Espanha a atrasar-se face aos restantes países europeus.
Antero enumera três causas: o triunfo da Contra-reforma, dirigida pelos Jesuítas, no interior da Península Ibérica, não beneficiando da lufada de ar fresco que foi a Reforma protestante a nível de ideias e mentalidades - como ocorreu na restante Europa - a centralização política decorrente da Monarquia Absoluta  e, por último, um  sistema económico ruinoso propiciado pelos Descobrimentos, que nunca foram aproveitados para catapultar a economia,  antes servindo como recurso explorado até à exaustão  por uma  aristocracia ociosa  e nada empreendedora,  que vegetava  à sombra do ouro e das especiarias vindas das Colónias.  
Obra imprescíndivel para compreender os grandes males que afectam o país, no passado e na atualidade, " As causas  da decadência dos povos peninsulares" é, por isso,  um Livro com Sotaques,  e um destaque natural  na nossa evocação do grande poeta e pensador, Antero de Quental. 

Autor: Rui Marques  

Antero de Quental: o poeta com alma de filósofo



Nesse soberbo  ensaio histórico que é " A Tertúlia Ocidental",  António José Saraiva descreve-nos a magnífica Geração de 70. Eram figuras proeminentes dela, entre outros, uma santíssima trindade do pensamento português - Oliveira Martins era o historiador que fazia de cada página uma pequena obra de arte, Eça de Queiroz,  o crítico brilhante dos males da sociedade portuguesa, e Antero de Quental  uma figura imensa, poeta com alma de filósofo, de historiador, de eterno insatisfeito com os estritos limites da sociedade.
Num livro de homenagens escrito em homenagem ao falecido Antero de Quental, " In memoriam", Eça fala-nos emocionado  daquele a  que chama  "Santo" Antero  e que ouviu numa noite,  na escadaria da Universidade de Coimbra, ficando com  uma impressão fulgurante de uma personalidade única e irrepetível.  
Antero de Quental, nascido em Ponta Delgada a 18 de Abril de 1842, depois de iniciar os seus estudos na Ilha de São Miguel veio para Coimbra, aos 16 anos,  cursar Direito.  Começa aí também a  sua intensa  atividade cívica e de dinamização cultural, que manterá ao longo da vida, ao ser o fundador da Sociedade do raio cujo objectivo era a renovação do país através da Literatura. 
Em 1861,  publica os primeiros sonetos e, quatro anos depois, as " Odes Modernas" com influências notórias do emergente pensamento socialista de Proudhon. Esta obra é o ponto de partida para uma das mais famosas polémicas da História da Literatura portuguesa, a " Questão Coimbrã", opondo, por um lado Antero, Eça e Oliveira Martins e, por outro, a velha guarda literária que gravitava à volta de António Feliciano de Castilho, com vários textos e réplicas de parte a parte. 
Antero foi o grande mentor das Conferências do Casino, que se realizaram em Lisboa, em 1871, com várias intervenções de membros da Geração de 70. Para a posteridade,  ficaram a Conferência de Eça de Queiroz" O realismo como nova expressão de arte", e " A causa da decadência dos povos peninsulares", do próprio Antero de Quental, uma obra que é uma excepcional reflexão sobre os arcaísmos  religiosos e culturais que conduziram ao atraso económico de Portugal e Espanha. 
Vai viver para Lisboa, em 1868, trabalhando como tipógrafo e,  juntamente com Eça, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro, cria  o Cenáculo literário,  nos anos seguintes participa , ativamente, ao lado de Oliveira Martins, na fundação do partido socialista e do Jornal " A República". Muda-se, entretanto para o Porto, em 1886, publicando os " Sonetos Completos", a sua obra mais reputada. 
A doença - primeiro a Tuberculose e, na última fase da sua vida, o Distúrbio bipolar - levam-no  a uma existência errática, passando a residir em Vila do Conde e nos Açores. É nos Açores, a 11 de Setembro de 1891, que se suicida num banco de Jardim junto ao Convento da esperança, em Ponta Delgada. 
Miguel de Unamuno, o grande filósofo espanhol, disse dele  " Antero foi uma das almas mais atormentadas pela sede de infinito, pela fome de eternidade; há sonetos seus que viverão enquanto viver a memória dos homens". 

Autor: Rui Marques




Poetas com Sotaques

Antero de Quental


Ideal

"Aquela que eu adoro não é feita

de lírios nem de rosas purpurinas,

não tem as formas lânguidas, divinas,

da antiga Vênus de cintura estreita.

Não é a Circe, cuja mão suspeita

compõe filtros mortais entre ruínas,

nem a Amazona, que se agarra às crinas

dum corcel e combate satisfeita.

A mim mesmo pergunto, e não atino

com o nome que dê a essa visão

que ora amostra ora esconde o meu destino.

É como uma miragem que entrevejo

Ideal, que nasceu na solidão,

Nuvem, sonho impalpável do Desejo... "
 

Chefe brasileiro Felipe Bronze no Peixe em Lisboa

O conceituado Chefe brasileiro Felipe Bronze é uma das figuras que vão estar presentes no evento " Peixe em Lisboa",  que começa hoje na capital portuguesa. Nascido em 1978, Felipe Bronze iniciou a sua carreira gastronómica aos dezasseis anos, estagiando  nalguns dos mais conceituados restaurantes do Rio de Janeiro, completou a sua formação no Culinary Institute of America, em Nova Iorque e  trabalhou em vários restaurantes americanos antes de  regressar  ao Brasil,  em 2001. 

No Brasil  afirmou-se como uma das novas estrelas da Gastronomia brasileira - em 2001 foi considerado Chefe executivo  do ano pelo seu trabalho no restaurante Zuca, prémio que voltou a vencer  como Chefe executivo do restaurante Z contemporâneo, no ano de 2006   torna-se Chefe executivo do grupo Hotéis Marina,  e  finalmente  em 2010 abre  o seu restaurante Oro,  que já mereceu o aplauso da crítica especializada e do público. Paralelamente também mostra os seus dotes na Televisão:   apresenta o programa culinário  " Tá na época" do GNT  desde 2005.
Este evento gastronómico decorre em Lisboa, entre 12 e  22 de Abril no Pátio da Galé, no Terreiro do Paço e conta com a fina flor da Gastronomia mundial como os Chefes portugueses Henrique Sá Pessoa, José Avillez, o Chefe brasileiro Felipe Bronze ou o Chefe italiano Luca Collami,  que farão apresentações ao vivo.   

Autor : Rui Marques

Marília de Dirceu : o Sotaque de uma obra prima do amor


O investigador e professor português, Manuel Rodrigues Lapa, autor das  " Obras completas de Tomás Gonzaga", compilação  dos  poemas líricos " Marília de Dirceu e mais poesias",  designou-a como a Lírica amorosa mais popular da Literatura de Língua portuguesa. O grande poeta pernambucano e figura cimeira do movimento modernista, Manuel Bandeira, notava que na Língua portuguesa nenhuma obra, a não ser os Lusíadas, tinha sido tantas vezes editada, e o escritor José Veríssimo no livro " A Literatura brasileira" destacava o carácter pioneiro de " Marília de Dirceu" que,  junto com outros livros e autores  como " Caramaru" de Durão,  ou os " Sonetos" de Cláudio Costa", fizeram  a transição entre a poesia portuguesa e  a nova tradição poética brasileira que surgia assim exuberante, à imagem de um novo e imenso país chamado Brasil,  cuja identidade Literária e Cultural se começava a esboçar também  na arte poética. 
Acusado de participar  na conspiração da Inconfidência mineira, Tomás Gonzaga, então ouvidor geral de Vila Rica,   é enviado para uma prisão  na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, em 1789, no mesmo ano em que casaria com Maria Doroteia. O isolamento na Ilha, a privação da liberdade e do amor, foram o cenário ideal para o poeta   começar a escrita da sua obra-prima.
"Marília de Dirceu", sublimação literária de Maria Doroteia para alguns estudiosos, abstracção idealizada da  mulher para outros ,  é um diálogo entre Gonzaga, aliás Dirceu, o seu nome arcádico e a  pastora Marília. Nele encontramos temas como a iniciação amorosa, o refúgio na natureza,  a dor da reclusão, o sentimento profundo de injustiça num lirismo íntimo e enraizado na natureza. 
É um livro com o Sotaque mais profundo da alma humana: aquele que  fala, que diz o amor. 

Autor: Rui Marques  

As paixões de Tomás Gonzaga





Há poetas que vivem tão intensamente as suas paixões,  que acabam por aceitar as contingências do destino como um mal menor, quando comparado à perda do ser amado. Consomem-se como fogos humanos, tão rapidamente acesos como extintos no momento em que a o amor se perde.
Tomás António Gonzaga, o  poeta e jurista luso-brasileiro, nascido em Miragaia em 1744, viveu e morreu sob o feitiço de Marília. Curiosamente a sua obra prima poética, Marília de Dirceu, sintetiza num título a história de um amor – Dirceu era o nome arcádico que assumia – e revela-nos como essa união, umbilical e única,   se tornou imortal através da Literatura.
Nascido em Miragaia, filho de mãe portuguesa e pai nordestino, Tomás Gonzaga mudou-se com aquele  para o Brasil após a morte da mãe para Pernambuco e a Baía em 1751. Estudou no Colégio dos Jesuítas e, anos depois, regressou a Portugal para estudar na Universidade de Coimbra, onde se torna Bacharel em Leis em 1768.
Regressa ao Brasil, já como magistrado,  à atual cidade de Ouro Preto e conhece aquela que será a sua musa inspiradora – Maria Doroteia – que inspirou a pastora Marília,  que glosará  nos seus poemas. Antes escreve Cartas Chilenas,  um poema satírico em forma epistolar e pede Maria Doroteia em casamento, que é marcado para 1789.
Mas Tomás Gonzaga, como já vimos, eram um homem apaixonado por uma mulher e por causas políticas. E foi a sua participação no movimento da Inconfidência mineira, contra o poder colonial, que lhe valeu a prisão durante três anos na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, em 1789.
A Prisão, como sabemos pela história de vida de escritores como Dostoievski ou Camilo, é um lugar onde a evasão literária se torna uma necessidade. E é assim que o poeta faz, finalmente,  jus à sua amada,  e escreve a obra Marília de Dirceu cuja primeira parte – 33 poemas- foi publicada em Lisboa graças aos seus irmãos maçons, e em 1799 seria editada a segunda parte com mais 65 poemas.
A sua pena é comutada em 1793, em troca do exílio em Cabo Verde, onde se casa e trabalha como advogado, vindo a morrer em 1810.
Esta é a História de Tomás Gonzaga, o poeta que perdeu o amor e só o reencontrou através da escrita.   


Autor: Rui Marques 

Paulo Rocha ganha a admiração do Brasil


Em poucos meses, o ator português Paulo Rocha tornou-se um fenómeno de popularidade no Brasil. A sua personagem, Guaracy, que faz par romântico  com Lília Cabral, foi elogiada pelo público e pela crítica,  e valeu-lhe a nomeação como ator revelação do ano,   pelo seu papel na novela “ Fina Estampa”.
Paulo Rocha nasceu  no Porto em 1977  e,  foi criado pelos Tios avôs sem a presença dos pais, indo para uma Instituição de acolhimento de crianças quando estes faleceram – a  Casa do Gaiato- onde ficou entre os 13 e os 17. O adolescente Paulo Rocha desejava muito ir para uma Escola de Teatro e foi assim, com o apoio da Instituição,     que se estreou como ator na Escola Profissional de Cascais, na década de 90, sob a direção de Carlos Avilez. O seu percurso profissional inclui passagens pelo Teatro Experimental de Cascais e o Teatro Nacional, e papéis marcantes em várias novelas na  Televisão, nomeadamente na novela “ Vingança” onde a sua personagem Rodrigo Lacerda chamou a atenção do autor Aguinaldo Silva, que o convidou para a sua nova novela.
A personagem Guaracy Martins , na novela “ Fina Estampa”, ganhou a admiração geral do público pela sua perseverança na conquista do amor de Griselda, interpretada por Lília Cabral. Uma história que, no fundo, é o reflexo da vida de Paulo Rocha: um ator que conquistou a pulso uma carreira como ator,  e é hoje uma grande referência artística  no Brasil e em Portugal.
Autor: Rui Marques

Palco com Sotaque


“ Quinto” é o novo Disco de António Zambujo

Poucos artistas mostram tanta versatilidade e capacidade para reinventar um género musical  como António Zambujo. Neste novo Álbum “ Quinto”, o Fado convive com a música brasileira e a música alentejana, oferecendo ao público um cardápio de músicas tão variadas como magníficas.
Esta capacidade para transformar a música num ponto de encontro de influências artísticas, é uma constante na carreira musical de António Zambujo. Nascido em Évora em 1975, desde novo revelou uma aptidão natural para a música: estou Clarinete e  apaixonou-se pelo Fado participando e vencendo um concurso de Fado na cidade natal aos 16 anos.
Mais tarde foi viver para Lisboa,  onde cantou na conceituada casa de Fados Sr. Vinho e também fez parte, interpretando o papel do  primeiro marido da diva Amália,  no elenco da peça de Filipe La Feria “ Amália”. Viu editado o seu primeiro Disco “ O mesmo Fado” em 2002, seguiram-se “ Por meu cante” em 2004, “ Outro sentido” em 2007, “Guia” em 2010, e finalmente, em 2010,  chega o seu quinto Disco com o título “ Quinto”.
Em todos eles nota-se a sua ligação profunda às raízes da canção alentejana e o desejo de abrir o seu Fado a outras influências da lusofonia, sobretudo do Brasil. Essa relação tão especial com o Brasil é uma das marcas mais fortes na música de António Zambujo: em 2006, por exemplo, foi entrevistado por Jô Soares, cantou em parceria com Roberta Sá,  e foi elogiado por Caetano Veloso, no seu blogue Obra em Progresso, que chegou a compará-lo a João Gilberto, pela forma como canta docemente os seus Fados como se cada palavra fosse uma celebração religiosa, um ritual divino.
E agora, em 2012, chega “ Quinto”, o seu último Álbum. Com letras, por exemplo, de autores como  Maria do Rosário Pedreira, João Monge e do escritor angolano  José Eduardo Agualusa, outra grande figura da cultura lusófona com fortes ligações a Caetano Veloso e ao Brasil.
O artista que Portugal e o Brasil consagraram,  regressou, voltando a mostrar que o Fado pode enriquecer ainda mais a sua criatividade e beleza,  abrindo-se  ao diálogo com outros géneros musicais.   

 Autor: Rui Marques


Parabéns Porto: melhor destino turístico da Europa em 2012

A cidade do Porto merece louvores. O Porto foi considerado o melhor destino  turístico europeu em 2012, numa lista de 20 cidades,  avaliadas pela Associação de consumidores europeus. 
Registe-se que este ano tem sido muito favorável à afirmação da cidade a nível turístico: a conceituada revista " Lonely Planet" também recomendou o Porto como o quarto destino mundial a visitar,  numa restrita lista de 10 destinos, salientando a peculiar atmosfera das suas ruas estreitas, as praças e edifícios enfeitados com azulejos, as viagens de baixo custo que facilitam o acesso dos turistas, e produtos como Vinho do Porto que dão à cidade um charme especial e inconfundível. 
Mas para lá dos prémios, o que é que esta capital do Norte de Portugal tem que a diferencia de outras cidades ? Dizia Almeida Garrett que no Porto se trocavam os VS pelos Bs,  mas não se trocava a servidão pela liberdade. 
A luta pela liberdade é uma constante da história do Porto. Origem etimológica de Portugal - Portus e Cale eram as duas margens da futura cidade nos seus primórdios, nome do qual derivou Portucale e, mais tarde, Portugal- o Porto foi sempre  um espaço vital para a afirmação da independência nacional. 
Cidade orgulhosa da sua burguesia empreendedora, com uma profunda marca do Bispado, o Porto dos primeiros séculos do Portugal independente foi ganhando uma importância vital na afirmação económica do novo reino. Paralelamente,  nunca deixou de ser uma referência na luta pela liberdade - foi o berço do Infante D. Henrique, grande estratega dos Descobrimentos, e da cidade partiram algumas das Naus que se juntaram às restantes caravelas  que estavam em Lisboa para empreender a aventura dos descobrimentos, a cidade que resistiu às tropas miguelistas favorecendo o triunfo dos liberais e do rei D.Pedro IV - D. Pedro I do Brasil -  no cerco do Porto, facto que levou à inscrição no brasão da cidade em 1834 a seguinte frase " Antiga, mui nobre e sempre leal e invicta cidade", e foi no Porto que ocorreu o primeira revolta republicano contra a Monarquia, em 1891, muito antes da Revolução que eclodiu em 5 de Outubro de 1910, e instaurou a República. 
Além da história riquíssima da cidade, é inevitável que falemos dos inúmeros pontos de atracção do Porto: o Museu de Serralves, a Casa da Música, a Livraria Lello, a Torre dos Clérigos, o Rio Douro  belo e romântico, a magia do Vinho do Porto, o Palácio da Bolsa com o seu mítico e inesquecível Salão Árabe,  o Parque da cidade, a Foz quente e cosmopolita,  a cor pardacenta e inimitável das ruas, dos edifícios, os novos espaços nocturnos e bares que dão à cidade um contraste único entre o clássico e o moderno, entre o passado e o futuro. 
Também é uma cidade acolhedora, com muitos e variados Sotaques, com uma diversidade incrível de línguas e origens - por todo o lado vêem-se estudantes Erasmus, existe uma comunidade chinesa assinalável, e uma forte presença brasileira. Claro que o sotaque do Porto é muito característica, com uma gíria e um calão que fazem as delícias de quem ama as variações da Língua portuguesa. 
Por tudo isso, o Sotaques dá os parabéns ao Porto. E recomenda aos seus amigos que visitem a cidade. 
Vale a pena !!!

Autor: Rui Marques